A grande invenção

Alguns amigos conversavam numa mesa de bar. Falavam sobre futebol: a última rodada do Campeonato Brasileiro havia sido emocionante. Betinho, tricolor doente, se gabava de seu Fluminense estar na liderança com nove pontos à frente do segundo colocado, o Atlético Mineiro. De repente, Eduardo surgiu como uma indagação que nada tinha a ver com o assunto:
- Qual foi a maior coisa já inventada pelo homem?
- Como assim?! – alguém disse.
Eduardo repetiu a pergunta:
- É isso mesmo. O que vocês acham que tenha sido a maior invenção do ser humano?
Os palpites foram sendo dados e surgiu uma lista enorme de coisas: a televisão, o rádio, o computador, a câmera fotográfica, o celular, o micro-ondas, o avião, o raio laser, o automóvel, enfim, a relação de super inventos não acabava. Mas Eduardo não estava satisfeito e disse:
-Vocês estão gelados! Não foi em nada disso que pensei.
Os outros continuaram tentando: o microscópio, o telescópio, as espaçonaves, os robôs, a bomba H, as usinas nucleares, os equipamentos de Medicina Nuclear, etc.
- Todas essas foram grandes invenções, mas não foi a que considero a grande sacada do homem. – falou Eduardo.
- Não? Então qual foi? – disse Betinho.
- Foi o papel.
- O papel?! – resmungou Alex.
- Ah, fala sério! – Betinho retrucou.
Então Eduardo partiu para a longa argumentação:
- Eu acho que foi o papel. Na realidade, foi o papel e seu inseparável amigo, o lápis. Para todas as coisas que vocês disseram houve primeiro um rascunho, uma planta, um projeto. Todo invento nasceu de uma ideia, mas que para ser materializada, primeiro foi preciso desenhá-la. Tudo começou no papel. Pensem se algumas dessas coisas que vocês relacionaram não começaram por um projeto feito em papel? Mesmo com a tecnologia que temos hoje, o papel é elementar, indispensável, até mesmo para projetar as próprias máquinas que o transformam em diversos tipos e padrões.
Eu fiquei pensando nessa história e concluí que o Eduardo tem razão. O papel pode não ser a maior de todas as invenções, mas é uma das maiores, com certeza. E então, resolvi colocar “no papel” o meu ponto de vista.
Enquanto os amigos do Eduardo pensaram em grandes invenções, nos equipamentos mais sofisticados, eu já me lembrei de coisas mais simples, porém de grande importância. Por exemplo: todo o conhecimento produzido no mundo em todas as áreas, e também a informação e a comunicação, não chegariam às pessoas se não fosse o papel que compõe os livros, os mapas, os jornais, as revistas, os panfletos, os folhetos, os cartazes, os memorandos, as cartas, os avisos, os telegramas, etc. Mas isso ainda não é tudo. O papel também está nas embalagens de milhares de produtos, está sob a forma de cupons e de bilhetes de acesso a eventos, está na prescrição do médico, está nas bulas de medicamentos, está no script dos atores, na partitura dos músicos, nos croquis dos estilistas, nos projetos do arquiteto e do engenheiro. O papel é o protagonista no mundo dos estudantes: está nos cadernos, nas apostilas, nas provas, no boletim, na caderneta. Também é muito útil para a dona de casa sob a forma de listas de supermercado, de guardanapo, de papel toalha, de filtro para coar café e de tantas outras utilidades, mas, talvez, a mais importante seja o papel higiênico. Ou você nunca experimentou a desagradável situação de ir ao banheiro e não ter um rolo de papel higiênico à mão? Sorte de quem nunca passou por isso.
O papel também rege a nossa vida financeira se apresentando sob diversas formas: cheques, carnês, boletos, recibos, enfim, papéis de contas, contas e mais contas. E quando a gente resolve substituir o papel-moeda, ou seja, a cédula, pelo dinheiro de plástico, parece que “ele se vinga”, pois vem sob a forma de uma fatura exorbitante para pagar, e a coisa que parecia prática e simples, torna-se complexa e preocupante.
Nas relações afetivas o papel também tem papel fundamental (seria isso redundância?). O que quero dizer é que nas relações humanas o papel também exerce uma presença indiscutível. Durante séculos, bilhetes e cartas de amor aproximaram apaixonados. Mesmo que hoje as pessoas se utilizem da agilidade do e-mail ou dos torpedinhos no celular, ainda há muitas que não abrem mão do bom e velho hábito de escrever cartinhas para as pessoas queridas. Isso vale também para outros tipos de relações como entre familiares e amigos. Até porque, por mais incrível que possa parecer, há muita gente que nunca teve contato com um computador.
Todas as pessoas costumam registrar seus momentos especiais fotografando-os, sejam viagens, festas, encontros, eventos, enfim, não há no mundo alguém que não tenha um álbum de fotografias. É mais uma prova da versatilidade do papel: transformar-se em foto para que momentos importantes sejam perpetuados.
É interessante ter sempre um bloquinho ou mesmo um pequeno pedaço de papel por perto para anotar um número de telefone, um endereço ou um recado. Quem escreve como eu, é fundamental que tenha um bloco sempre à mão, pois nunca se sabe quando surgirá uma nova ideia para um texto, não é?
A verdade é que o papel é mesmo uma grande invenção. Abençoados sejam os chineses por esse presente que deram à humanidade, sem o qual nós não existiríamos literalmente, pois alguém só existe se tiver Certidão de Nascimento, como também só deixa de existir com a Certidão de Óbito. E durante toda nossa vida vamos acumulando papéis e mais papéis: Certificados de Ensino Fundamental e Médio; Certificado de Reservista (felizmente somente os homens são obrigados a isso); Carteira de Trabalho; Diploma de graduação, de pós-graduação, de mestrado, de doutorado (os dois últimos eu não tenho, infelizmente); Certidão de Casamento (ou de Divórcio); Escritura de imóveis; Contrato de aluguel; Apólice de seguro; resultados de exames médicos, documentos do carro e uma infinidade de outros papéis.
 Como bem disse nosso amigo Eduardo, muitas invenções começaram no papel, inclusive esse texto, que agora termino de digitar. Se não fosse o bloquinho que sempre deixo em cima da minha mesinha de cabeceira, talvez tivesse perdido a ideia.
 
 
 
 
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 08/11/2012
Reeditado em 12/11/2012
Código do texto: T3974943
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