A questão da violência
A violência está tomando conta do nosso dia a dia. É uma sensação estranha, é como matar ou morrer, ir e não vir. Já nem sei mais o que faço com estas loucuras que, para uns, são banais, mas que, para mim, ainda são complicadas e difíceis.
Quando ligo a televisão a tela aparece avermelhada, às vezes chego a imaginar que são restos de sangue que jorrou das notícias. Quando abro o jornal as fotografias dos desastres mais cabeludos são mostradas com os seguintes dizeres: “capotagem espetacular, todos os passageiros estão entre a vida e a morte”. Isto quando não acontece de o ônibus ficar pendurado no parapeito da ponte e o repórter revelar: "Felizmente só o motorista morreu. Deixando a mulher e seis filhos menores a deus-dará".
As estatísticas sobre a violência de um modo geral, não oferecem nenhuma confiabilidade, tudo isto sem falar na violência verbal que, a meu ver, é bastante cruel. Atinge toda a população. Só para ilustrar o meu raciocínio, me lembrei do nosso ensaboado Paulo Maluf. Político da velha guarda que um dia teve o desplante de dizer: “...Quer estuprar? Estupra, mas não mata.” Para mim este foi um crime contra a mulher sem precedentes na história do Brasil. Certamente jamais será perdoado por este crime.
A violência visual é outra aberração. Você nem precisa sair do seu apartamento ou casa para ser violentado, basta abrir a janela e olhar para o lado de fora. As imagens que são oferecidas nos outdoor falam por si. Esqueça os atores que são maravilhosos, faça de conta que você está vendo apenas os fatos. Você vai perceber nas entrelinhas que o quê se está exibido é o desamor.
A violência está virando piada. Meu amigo do peito é um desses bicões que vão às bancas de jornais com a desculpa de ler apenas as manchetes. Um belo dia, como era do seu costume, foi até a banca mais próxima de sua casa para saber das novidades do dia. Só que no dia anterior havia acontecido um crime bárbaro na Ceilândia, uma cidade-satélite de Brasília e, na primeira página estava estampada a fotografia do suposto criminoso. O meu amigo, que é um grande curioso, estava espreitando a fisionomia do cidadão. Desconfiado olhou para um lado, olhou para o outro, quando sem mais nem porque, um sujeito franzino aproximou-se e perguntou a ele: “fiquei bonito na fita?”.
Meu compadre olhou demoradamente para a fotografia do jornal, em seguida confrontou-a com o rosto do cidadão que estava bem ali, aos seus olhos. Vendo que na verdade aquele era o original em carne e osso, danou a tremer. Não teve dúvida, largou o informativo como se nada houvesse acontecido, deu dois ou três passos para trás e, logo em seguida, partiu como um corisco pela primeira rua que encontrou sem a menor preocupação de que aquela fosse realmente a rua de sua casa.
Hoje, depois de alguns anos, se você perguntar ao meu ilustre e corajoso amigo, onde fica a banca do Zé Pretinho ele, sem muitas delongas, vai logo dizendo: “nunca ouvi falar desta banca, nem tão pouco desse tal de Zé Pretinho, se ela existe, deve ficar do outro lado da cidade, lá pelas bandas do velho cemitério”.