Meu adeus a Carmélia Alves

     Até aonde minha envelhecida memória me conduz, digo que, na década de 1940, ouvi, pela primeira vez, a Carmélia Alves cantar. Ao lado de Luiz Gonzaga, ela participou de um shwo na minha cidade cearense, a sertaneja Iguatu, que aniversariava. E cantou:

          "Sabiá lá na gaiola 
            Fez um buraquinho
           Voou, voou, voou, voou
           E a menina que gostava
           Tanto do bichinho
           Chorou, chorou, chorou, chorou."


     Carmélia Alves morreu no dia 3 de novembro deste ano, 2012, no Rio de Janeiro, sua cidade natal, aos 89 anos de idade. Sabia que ela estava doente; acompanhei de perto o seu ocaso...
     Carmélia era filha do casal Raimundo e Adelina, ele cearense e ela baiana. O que lhe assegurou o indiscutivel sucesso cantando baião, música nascido no coração do nordeste, graças a Humberto Texeira, do Ceará, e Luiz Gonzaga, de Pernambuco.
     A Rainha do baião. Na biografia de Luiz Gonzaga, escrita, com cuidado e perfeição, por Dominique Dreyfus, Carmélia conta como foi coroada rainha por Gonzaga, o Rei do baião.
     Assim. Em um programa de rádio, no Recife, no qual o sanfoneiro era a estrela maior, Carmélia foi por ele chamada publicamente de Rainha do baião, perante um auditório exultante com sua apresentação ao lado do Rei da sanfona. Que saudade dos bons tempos do rádio e do rádio bom!!!
     No dia seguinte - lembra a cantora -, a imprensa bradou: "Carmélia Alves foi eleita Rainha do baião."
     E finaliza: "Luiz Gonzaga resolveu, então, concretizar o título, e me convidou novamente para o programa, onde me coroou oficialmente, colocando na minha cabeça um chapéu de couro, o símbolo do nordeste," segundo o Rei.
     Me lembro, que, nos shows em que a Rainha se apresentava, o bordão preferido do Gonzaga era este: "Eu e Carmélia, Carmélia e eu!"; e explodiam demorados aplausos homenageando os dois inconfundíveis interpretes do velho e querido baião.
     Aqui, modestamente, o meu adeus a Carmélia Alves, e com muita saudade...
   Se de fato existir, após a morte, outra vida existir - coisa que me esforço muito para acreditar - com certeza Carmélia continuará cantando, de Humberto Teixeira, meu conterrâneo, "Eu sou o baião". 
  
          "Ê ê ba! Ê ê ba!
          Companheiro, eu sou do norte,
          Eu vim lá do Ceará."


     Como desejei a outras estrelas que nos deixaram - Emilinha, Nubia Lafayette, Dalva, Linda e Dircinha -,  e que com suas vozes maviosas fiziam-me um sujeito feliz, também quero que você, "nordestina" Carmélia, tenha uma eternidade tranquila e gloriosa.
   Requiescat in pace!

           
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 06/11/2012
Reeditado em 27/05/2014
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