ONOMATOPEIAS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Onomatopeia corresponde à reprodução ou imitação de um som natural, de seres vivos ou da natureza. Tique-taque é onomatopeia do batido de um relógio ou da chuva no telhado. Tintim designa o som que fazem as moedas quando se chocam umas com as outras. Reco-reco, zunzum... Para José Saramago, há onomatopeias providenciais, como esta: fez plof e sumiu-se. Imagine-se, continua Saramago, que tínhamos de descrever, no caso, o processo de sumiço do sujeito em todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof.
Mergulho, em natação, significa a ação de lançar-se à água, de grande altura e em variadas posições. E não é que traduzir isso por um tibum, imitando o som produzido pelo corpo ao cair na água, diz tudo? Ouso fazer uma comparação. Em informática, zipar um arquivo significa compactá-lo, diminuir o seu tamanho para que ocupe menos espaço. É o que acontece com a onomatopeia, sobretudo com a onomatopeia interjetiva, exclamativa. Nesse sentido, é uma arte saber contar caso, principalmente saber resumir todo um estado de alma em gotículas. Poxa, seu! Da mesma forma, o diminutivo popular às vezes é mais expressivo que o erudito. Já pensaram se, em vez da figura de Zé Gotinha, visando à campanha de vacinação contra o vírus da poliomielite, usássemos José Gotícula? Esquisito pra caramba, não?
Na música, onomatopeia é uma graça, como na Bicharada dos Saltimbancos: “Au, au, au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó. O animal é tão bacana. Mas também não é nenhum banana. Au, au, au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó. Quando a porca torce o rabo pode ser o diabo. E ora vejam só. Au, au, au. Cocorocó.” O Trenzinho Caipira de Villa Lobos se caracteriza por imitar os movimentos de uma locomotiva, recorrendo a diversos instrumentos de uma orquestra. No poema Cota Zero Carlos Drummond de Andrade faz também: “Stop. A vida parou ou foi o automóvel?” Respondo com Machado de Assis: "Eia, fora o temor".