Que Amor É Esse, Meu Deus!?

'A melhor definição de amor não vale um beijo de moça namorada.' (Machado de Assis)


A mocinha do filme se mete nas maiores confusões em nome de uma grande paixão. Numa cena, ela exclama: “Que amor é esse, meu Deus?”

Gostei do mote. Coisa boa é falar de amor, né? Mas o que eu queria mesmo era de saber: faz sentido esta pergunta? Existem diferentes tipos de amor? Existe amor materno, filial, conjugal, fraterno? Qual amor une amigos, tios e sobrinhos, primos, avós e netos? E que amor sentimos por animais, lugares, profissões e até objetos? Ou vai me dizer que você não ama aquele disco branco dos Beatles?

Ouso responder: não creio em diferentes tipos de amor. Penso que o que varia é o conjunto acessório de sentimentos que constituem as relações. Ou seja, no meu entendimento, o que difere o amor carnal do amor de mãe é a existência da atração sexual, no primeiro; enquanto no segundo, reinam a ternura, o zelo, a proteção...

Isto é, para mim, amor não se classifica. Amor, a gente sente e ponto. E, olha que incrível: exceto por raríssimas condições especiais, a gente ama certinho! Seja ao pai, à mãe, aos irmãos, amigos, filhos e, claro, à nossa cara metade; para cada um, oferecemos exatamente o amor que lhe cabe, sem confundir nada. Pra que explicar?

Então, parece-me pura retórica a questão “que amor é esse”. Mesmo quando, como no filme, precedida de um suspiro profundo e seguida da expressão “meu Deus!?”. Mesmo que envolva aquela vontade louca de estar junto todo o tempo, um incontrolável medo de perder, a insaciável saudade, um indisfarçável tesão. Mesmo que ele nos consuma com fome e sede. Mesmo assim.

Aliás, no mais das vezes, quando o amor se apresenta deste jeito tão voraz, em que parece nos roubar de nós mesmos, nos tirando o juízo e nos anulando em nossa condição pessoal, acaba por nem ser mesmo amor. É paixão, é desejo, é carência, e, o que é pior: é falta de amor próprio.

Se bem que... E Narciso? Morreu foi por excesso de amor próprio?

É! Esse negócio de falar de amor é divertido, mas é também bem complicado! Melhor deixar o assunto para os estudiosos e poetas e a gente fica por aqui, amando.

Afinal, se falar de amor é bom, amar é muito melhor!



Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 10/08/2012, e reeditado do O Amor e os Amores, publicado neste Recanto em 08/08/2011.