Viva a poesia! Viva a poesia!
Há dias que a gente acorda com vontade de sumir, de se entregar ao ostracismo e se exilar de si mesmo. Dia em que nem o sol esquenta a madrugada de angústia que habita em nós. Mas, nada que uma boa ideia e uma dose de poesia para clarear as trevas da solidão.
Porém, o sol nem sempre nasce com a poesia e a escuridão do vazio das rimas faz tropeçar na solidão da inoperância da caneta. Um gole de conhaque e a lua brilhando no céu apontam à direção do horizonte e o verso então começa a se apresentar. O suor, o sangue e a lágrima se misturam e melam o papel. É vida transbordando e querendo tirar a má impressão do dia frio e plúmbeo que teimou em nascer e permanecer. A poesia espanta o vazio e enche o corpo e o ambiente com estribilhos cheios de emoção. O “eu” deixa de ser egoísta e procura explicar a realidade com a fidelidade canina e, mais uma vez, o poeta se “introspécta” e volta para o seu próprio mundo.
O mundo é grande, mas não é maior que o mundo que existe dentro do poeta. A realidade sem o onírico, a vida sem as cores necessárias para o ideal buscado, fazem com que o homem, atrás do poeta, se exile em si mesmo e construa sua torre e, de lá, observe a penumbra que permeia os que buscam apenas o “realis”. Subjetivar e fantasiar o preto e branco é querer que os matizes brilhem de todas as formas e incandesçam os olhos e iluminem os passos de quem caminha nas trevas do vazio do existir.
Há dias que a vontade é sumir e desaparecer, fechar os olhos e escapar da vida. Mas a vida precisa ainda de rascunhos de sentimentos e necessita de ler ainda os versos pobres de poetas que vivem à margem, em uma busca constante pela perfeição. Mas o que é a perfeição? A perfeição é uma meta, uma rima inalcançável e jamais será encontrada, por isso o poeta caminha entre a angústia e a procura. Viva a poesia! Viva a poesia! A saudação e o verbo são bem diferentes. Feliz daquele que saúda e vive, pois sentirá transbordar a vida em suas veias.
Há dias que a poesia deveria brotar, crescer sempre que regada, mas ela tem suas estações e, como uma flor rara, ela só aparece para quem sabe colher as divagações. O poeta enfim se cala e agora volta para o seu mundo interior, se exilando e se guardando do mundo real e vazio.