Naturalidade da calmaria insana numa fria análise infeliz espaço-físico-temporal do ser humano, ou apenas simplesmente e tão-somente:
Cada existência é única. Pessoas são diferentes umas das outras, vivem suas vidas de formas diferentes e, caso tivessem a oportunidade, não viveriam igualmente outra vez a mesma vida. Tudo o que você faz ou deixa de fazer hoje reflete, de alguma forma, daqui algum tempo, seja ele especificado em horas, dias, meses, anos. Gosto de acreditar nisso. Toda conversa, todo compromisso, todo filme, toda leitura, todo tudo. Toda vivência, incluindo a falta dela, é igualmente determinante no que seremos, ou que poderíamos ser. Do mesmo jeito que se estamos aqui hoje é porque somos reflexos de nosso passado. Olha onde você está hoje. Aí, ao seu redor, as pessoas, os objetos, o link no qual chegou a esse texto. Olha como você chegou a este ponto dele sendo que passaram-se apenas algumas linhas em apenas um parágrafo.
Olha, olhe, olho. Pra ti, pra mim, pra si. É um exercício que envolve grande esforço e que nem sempre conseguimos fazer. Ou até mesmo queremos fazer. Geralmente não nos preocupamos, deixamos cada uma das nossas experiências em suas determinadas caixinhas e que ali fiquem no nosso porão pessoal. Algo que me decepciona? Deixa assim, uma hora passa, ou não, quem sabe, só o tempo pode dizer. Nem se eu tivesse as forças de Hércules e Anderson Silva juntas eu me mexeria para mudar o que me incomoda. Não vale a pena, sem contar o medo. Mentira, valer a pena com certeza que vale. Mas o que exatamente fazer pra mudar? Sabemos de nossos problemas e encanações, mas além do comodismo que baila nas vestes da preguiça, existe também o lado obscuro, o desconhecido. Não tem como se mexer sem saber por que caminho andar. Talvez acerte a rota, talvez não. A explicação, logo, seria simplesmente se mexer, a esmo, que uma hora você encontra o que procura. Até lá, corre o risco de se dar mal, de alguma forma, no meio desse percurso.
Caso este texto fosse uma trilha sem indicações, chegaríamos a mais uma bifurcação. Se dar mal, ou dar-se mal, seria apenas mais um ponto de vista entre tantos outros, que mais uma vez foi criado a partir de tudo o que vivenciamos até hoje. O que eu posso considerar como sendo ruim, você pode considerar bom. Talvez eu até considere como sendo bom apesar de ruim, a vida tem dessas. Precisamos ter experiências ruins para que as futuras sejam melhores. É tudo questão de ganhar experiência. Um ônibus errado que você pega aqui pode te fazer descobrir uma parte da cidade que não lhe seja comum. Viajar ao lado de penitenciários que estão voltando para suas respectivas casas – e que muitas vezes não voltam para suas igualmente respectivas celas – pode te dar uma aula de como é a vida na cadeia melhor que muito documentário que se encontra por aí no Youtube. É claro, fica o receio de se andar com gente desse tipo, está aí exposta uma ocasião de experiência ruim porém boa porém que dá pra viver sem, então, seria melhor que não tivesse.
E tem o tempo também. Tempo que se gasta, tempo que se investe. Tempo que passa, sempre, tempo que não passa não existe. Tempo para escrever este texto que absolutamente é muito menor do que o tempo que se leva para ler este mesmo. Tempo que se gasta esperando alguma coisa acontecer, e que pode acontecer, como também não pode. Na pior das hipóteses fica-se esperando algo, ele não vem, e você morre. No fim das contas, uma coisa realmente aconteceu, não? Seja no decorrer de décadas de vida, seja hoje o tempo que você perde vendo um seriado e logo amanhã morre num acidente de carro; enfim, o tempo não volta nunca mais.
Oras, parando para analisar friamente, por quê? Para ter experiência, como disse linhas acima. Para ter melhores experiências no futuro, mas o futuro tem um fim. O de todo mundo. Então, de que adianta um milhão de dinheiros ou um milhão de amigos ou um milhão de seguidores no twitter, sendo que na posterioridade nós – e eles – vamos e o que ficam são os números? Esquecidos, frios, um rastro de vida, disponível apenas para alguma outra alma que por acaso venha a conhecer. Apenas isso. Nada mais. Grosso modo o que ficam são nossos descendentes, parentes que nos lembrarão dali uma geração ou duas no máximo. Às vezes nem isso. Ou ainda ter participado de algum feito, bom ou ruim, ter um cargo importante que todo mundo reconhece no mundo inteiro, ter cometido um crime hediondo no qual as pessoas sentem calafrios só de ouvirem seu nome. Ou ainda, mais difícil, usar a cabeça e ser um cientista que vai deixar como legado seus estudos e que outras pessoas terão a oportunidade de desfazer a sua tese – que quando vivo parecia tão boa! – ou dar seguimento a ela e continuar estudando mais a fundo.
No fim das contas, o que eu queria mesmo dizer, com tudo isso, com essas letras e essas malditas explicações entre vírgulas que acabam travando a fluência o texto mas que poderia ser piores caso fossem frases muito grandes sem vírgula alguma no decorrer de muitas palavras que pode acabar incomodando o leitor e fazendo com que ele volte no começo já do parágrafo para ver qual é o começo desta frase a qual ele não se lembra mais como começou; no fundo, o que eu digo é que: não sei. E digo mais: quem é que sabe?