CARTA AO MEU PAI.

Pai, hoje está fazendo vinte anos que você foi embora, ainda sinto uma saudade de você que não tem tamanho, parece até que sua transição teria acontecido ontem.

Lembro-me do teu rosto alegre, do brilho de teus olhos, do calor da tua voz um pouco rouca, sempre me ensinando.

Lembro das nossas pescarias nos finais de semana, dos seus passos andando pela casa verificando se as portas estavam bem trancadas; do cheiro do seu café e das muitas madrugadas quando vinha na nossa cama nos arrumar as cobertas.

Lembro-me quando eu era ainda bem pequeno, inseguro, assustado, morrendo de medo da tempestade que se aproximava, sacolejando nossa casa e dobrando as arvores do meio do pasto, você chegava vergado sobre sua bicicleta, junto com os primeiros pingos, no vendaval; você entrava correndo em casa, sempre sorridente, batendo da roupa a água da chuva.

Meu coração de criança se enchia de alegria, agora já não precisava mais ter medo, aliás, já não precisava mais ter medo de nada, meu pai agora estava em casa.

Lembro-me das tuas broncas quando eu era mais rapaz, sempre me orientando e mostrando-me o caminho do bem; das surras que fora obrigado a me aplicar, mesmo sofrendo mais que eu, para dobrar-me o espírito rebelde.

Lembro-me das nossa longas conversas, meu velho, sobre tudo; lembro de você todos os dias, lembro-me de você sempre.

Em dias como hoje quando a saudade bate forte e a vida pesa, não desanimo nem arredo pé, pois os exemplos de dignidade e coragem que a sua vida simples e honesta me deixou faz com que eu continue firme, olhando a linha do horizonte sem me desviar do caminho

Hoje eu tenho uma família como a tua; quatro crianças alegres e barulhentas e uma mulher que é três partes da minha laranja.

Tento ser para eles o que você foi para agente, mas não consigo, você era único, humilde e sábio, descomplicado e simples

Fazem vinte anos que você voltou para casa. Hoje você e luz, luz cósmica e mora no coração do pai de todos nós, mas os exemplos deixado pelo seu jeito simples e honesto de viver não se apagará nunca, e continuara a transformar a vida da minha família; da minha comunidade; desse país e tomara que desse planeta.

Um dia quando o sopro da vida tiver me abandonado e que o óleo da minha lâmpada tiver chegado ao fim, espero deixar para meus filhos, filha e esposa um pouco de ti.

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Gilberto F Lima
Enviado por Gilberto F Lima em 05/11/2012
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