Quando a mente brinca com o coração;
Apesar de tudo, eu mal a conhecia. Lembro superficialmente de seu rosto, de seus cabelos e de sua pele, notavelmente branca. Seus olhos possuíam uma cor característica que a distinguia das outras pessoas. Não me recordo muito bem, mas parece que discutíamos. Não estava preocupado com isso, naquele momento eu só queria olhar para ela. Não me lembro de ter dito sequer uma palavra, com o tempo apenas segurei sua mão. E ela se calou, olhou com uma feição assustada para mim e perguntou alguma coisa. Novamente, as palavras não conseguiram chamar minha atenção frente à beleza enigmática da garota sentada ao meu lado. Dentro dos poucos segundos que nossos olhares se cruzaram, ao nosso redor, nada mais existia. Era ela. Estava ali, na minha frente. Eu segurava sua mão, sentindo o calor de sua pele e a incredulidade de que aquilo acontecia daquela forma. Pensei, por um segundo, que talvez o idealismo fora longe demais. E por conta dessa dúvida, dessa descrença em tudo o que é bom, alegre e feliz, ela se distanciou. Levantou-se e passou a caminhar em certa direção. Chamei-a por seu nome, mas ela não se virou. Me levantei e a distância desapareceu, pois me encontrava ao lado dela, segurando seu braço direito e pensando se ela não iria desaparecer na minha frente. Ela não desapareceu. Me olhou lentamente, como se me desculpasse por algo que eu não havia feito. Eu não me importava. Não me importava com o chão que tremia, com as paredes caindo ao nosso redor, com a chuva torrencial ou com a certeza de que aquilo não era real. Não importava, naquele momento, nada mais importava. Seu rosto assumira uma feição triste, como se ela tivesse de ir sem dizer adeus. Eu realmente preferia que ela não dissesse. Lentamente envolvei meus braços ao redor de seu corpo e a abracei. O tempo parou. As folhas que voavam congelaram no ar e não se ouvia mais nada. Apenas os soluços da garota chorando, envolta em meus braços. Eu sabia que não a veria mais. Sabia que ela representava uma mensagem, uma ideia. Eu sabia que aquilo me dizia muito mais do que eu queria acreditar. Eu sabia que ela não existia, e ela não mais existiu.