O tempo certo.

Eu trabalho como caixa numa loja de shopping. Era uma bela tarde de sábado. Enquanto observava a movimentação de todos, uma dúvida incomodou a mente.

Seria possível que tudo estivesse milimetricamente programado para acontecer? Onde tudo e todos se movimentam numa sincronia perfeita?

As pessoas não paravam de transitar de um lado para outro. Era tanta gente, umas vinham de um lado e outras de outro canto. Outras, ainda, surgiam de um buraco. Tantas e tantas, que pareciam brotar instantaneamente, como num passe de mágica.

À minha esquerda havia duas amigas, conversavam descontraídas. Imagino que seja um papo alto astral. Sorriam e olhavam para os lados, analisando cada ser que passava. Certamente que pelas trocas de olhares que captei, certamente estão também me analisando. Mas o que estariam pensando a meu respeito?

Noutra mesa, um trio de amigos. Não conversaram muito tempo, pois se levantaram em poucos instantes. Talvez uma despedida ou até logo!

Um segurança me observa. Será que irá me questionar sobro o uso da energia? Que nada, apenas olhou.

Na mesa adiante, uma ruiva estranha meu olhar que a buscara. Mas, abruptamente, o companheiro toma-lhe a atenção buscando teus lábios com um beijo. A conversa segue divertida. Ela morde os lábios e tece um belo sorriso. Coça a testa, e, outro sorriso alegra o rapaz. Namorados ou não estão bem envolvidos naquele momento. Pois é final de semana, e com certeza, jovens que são, procuravam ali alguma diversão, trocar idéias e carícias.

Noutra mesa, um casal de amigas. Mas seriam apenas amigas? Ou mais um casal de lésbicas? Quanta crueldade da minha parte. Não deveria julgar assim! O papo soa como sério.

Uma senhora, juntamente com sua filha e neta sentam para um breve descanso. Os olhares descrevem a admiração e o carinho que sentem pela criança.

Como têm gente que trafica por estes corredores.

Gente de todos os tipos, gordos, magros, altos e baixos, brancos, negros e asiáticos. Vestidos com das maneiras mais variadas que a moda contemporânea e os gostos que uma sociedade eclética permite exibir.

O que me chamou a atenção foi justamente um negro usando uma camisa da seleção japonesa.

De frente, uma família. A mãe, como toda mulher observadora, visualiza o ambiente, bem como os filhos, e ainda conversa com o marido; no mínimo relatam como estão educando os filhos e como o tempo passa rápido e como eles crescem e desenvolvem suas habilidades.

Estou impressionado como daquele subsolo sai gente. Penso e continuo a observar o movimento. Existe um casal ao meu lado que também se distrai e interpretam os biótipos que vagam. Mas, o mais importante, que eu percebi, é o que existe entre eles. Um olhar, o sorriso, a fixação, o toque das mãos. Os carinhos que trocam discretamente. Estão apaixonados. Tanto, que se prendem ao desejo do beijo, tão longo e suave o encontrar daquelas línguas. Devem sentir como se não houvesse mais ninguém no lugar. Não deve ser apenas um mero encontro ou uma breve curtição, pois selaram o compromisso com o uso de alianças, estão noivos.

Contudo, um outro casal se mostra tão distante e diferente do anterior. Ela nem o olha, presa no ipad, não pronuncia nenhuma palavra, e, nem se dá conta dos movimentos da filha, que insistentemente e sem sucesso algum tenta chamar-lhe atenção. Em seguida é a vez do pai, que se distrai com o celular, sms para o facebook ou lendo e-mails. A sociedade é mesmo cheia de diferentes famílias.

E tudo é milimetricamente programado?

Tão programado, que se paramos pra pensar - que se tivesse algo para acontecer, que pessoas seriam atingidas?

Se fosse um desabamento, que momento certo para estarem naquele devido lugar, justamente naquele minuto?

E para tanto, devemos pensar que existe um destino? Com certeza os desígnios de Deus não falham? Então morreríamos todos desse lado do shopping.

E se, de repente, ocorresse um tiroteio. Conforme os cálculos do destino, passaria uma pessoa na minha frente e a bala não me atingiria. Isso, se não estivesse escrito que naquele momento fosse a hora da minha morte.

Será que é tudo uma questão de afinidade que estas pessoas se encontram nesse ambiente? Um filósofo disse que tal probabilidade somente ocorre por causa de uma lei tal, definida como afinidade. Mas será mesmo?

Estaria eu aqui observando estas pessoas e descrevendo tais atitudes porque estaria escrit, ou porque eu teria planejado isso antes?

Como saber? Não é mesmo! Como prever que certa pessoa irá passar por este ou aquele local, naquele determinado tempo?

Seria certo pensar que tudo é uma questão de decisão? Porque ela poderia ter planejado sair de casa com destino a este shopping, mas se um pneu furasse no caminho, ela ainda sim chegaria ao destino? A variável é tanta que ela poderia mudar de idéia. Mas não existe o destino? Então se ela decidisse mudar de idéia e retornar para sua casa, alguém poderia dizer que naquele dia ela não iria até o shopping.

Exatamente nesse momento, percebo pelo movimentar de uma garota, a visão de um óculos, que foi esquecido por um garotinho, que saiu daquele assento, logo após, terminar o lanche com seu coleguinha. Certamente que ele irá se divertir com seu amigo em outro ambiente. Mas, lembraria ele, do óculos e do lugar que o deixou? Se a resposta for sim. Então posso concluir que se ele lembrar que carregava um óculos e do lugar que ele o deixou, e voltasse ao mesmo lugar onde o deixara, era o destino dele retornar, para naquele exato instante, encontrar o objeto e, pelo a caso, com seu pai que estava sentado justamente na mesma mesa!

Procurei respostas, as mais lógicas possíveis! No entanto não encontrei nenhuma que pudesse satisfazer meus questionamentos.

Então ao notar as horas, vi que devia retornar para o trabalho. Antes, passei pelo banheiro para lavar o rosto e as mãos.

E para responder os meus questionamentos. No instante que assumir novamente o caixa, atendi as mesmas duas amigas que outrora estavam sentadas na mesa ao lado da minha naquele café. Na hora comecei a rir, pois a resposta havia sido me dado em experiência própria para que eu concluísse que sim, existe algo prétrassado para nossas vidas. Porque não haveria outra maneira de concluir, como algumas pessoas se encontram, no mesmo shopping, mas em ambientes diferentes, exatamente noutro lugar em tempo e minuto certo.

Não seria apenas uma coincidência! Não mesmo!

Isto é, não importa quais sejam as variáveis de formas que fazemos ou decidimos as nossas ações, elas sempre, sempre mesmo, nos levarão ao lugar que demos estar.

Então não há com o quê me preocupar. Tudo acontecerá conforme está escrito.

Charlie Becker
Enviado por Charlie Becker em 04/11/2012
Código do texto: T3968912
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