PARA SE PENSAR...

Estamos marchando – acredito eu – para um tempo sem volta. O homem está, numa velocidade espantosa, criando sepulturas, uma atrás da outra, para que, num espaço de tempo muito curto (isto em relação aos anos convencionados da Terra), acabe, de vez, com a sua existência, assim como aconteceu com os dinossauros.

Pensar fatalístico? Acho que não. Se pegarmos desde o princípio do mundo (contado na história do homem e na história de Deus), o que se vê é o homem se aniquilando em nome do poder, da riqueza e do prazer. Estivemos, há bem pouco tempo, perto de uma guerra nuclear. Estamos perto de novo...

Mas a maior guerra que estamos enfrentando, no momento atual, é a guerra da falta de valores, de ética, de cidadania e de organização social. O poder paralelo cresceu assustadoramente diante da inoperância do estado e se fortaleceu através do dinheiro vindo das drogas, das armas e da corrupção. Embora, recentemente, o estado tenha passado a agir, desesperadamente – tentando recuperar o tempo e o terreno perdido –, está muito longe de ganhar essa guerra.

Diante disso, a vida humana não tem mais valor. Mata-se a troco de nada. Ou melhor, a troco de uma pedra de crack ou de um papelote de cocaína. Hoje, a violência impera em cada esquina e as autoridades policiais não conseguem mais exercer o seu papel de prevenir, pois se veem às voltas com uma onda avassaladora de assaltos, furtos, roubos e, principalmente, mortes, mudando o seu papel para o de agir após o acontecido, deixando evidente a fragilidade da segurança, colocando à parte o preceito constitucional que diz em seu art. 144, § 5º, da C.F: “Às policias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”.

Hoje, ao ligarmos uma televisão ou abrirmos uma página de jornal, se não tivermos cuidado, o sangue, que é jorrado através de suas imagens e seus textos, pode nos encharcar inteiramente de encarnado. Isto aliado ao sensacionalismo das emissoras e à ganância de quem quer ganhar rios de dinheiro com a desgraça alheia, reflete-se no dia a dia de quem não tem nada a perder ou, infelizmente, quer esse tipo de divulgação para aparecer e conseguir, também, os seus 15 minutos de fama. Se fizermos um balanço, o noticiário está cheio deles...

Está sendo comum a morte matada. Mata-se para queima de arquivo, mata-se por vingança e mata-se por engano. O marginal já não tem mais medo da autoridade policial. Pelo contrário, o policial agora é quem tem medo do marginal. Esconde-se dele. Mente e diz que não é policial. Nas grandes cidades ele esconde a sua farda, o seu distintivo. Já não anda mais sozinho – às vezes nem sai mais de sua casa –, veste-se à paisana. Sabe que, a qualquer momento, uma moto com dois caras de capacetes poderá parar ao seu lado e seus ocupantes poderão disparar contra ele. Ao lado de qualquer um. O pior é que, mesmo eles se matando, infelizmente, matam quem não tem nada a ver com o crime, com suas prestações de contas.

Agora, a pergunta é; para que tudo isso? Racionalmente, tudo isso só leva ao caos. Ao fim. Se é assim, por que então tanta violência gratuita? Por que o cidadão não pode mais sentar-se na frente de sua casa e conversar com um vizinho, sem correr o risco de parar um transporte em frente a eles, descerem dele um bando de pessoas, puxarem suas armas e, na frente de todos, fazerem uma “limpa” ou um "arrastão"?

Uma vez uma pessoa amiga – que vinha comigo para casa, de carona –, ao passar em frente a um bar, disse-me: aquele grupo, ali sentado, é formado por pessoas que praticam roubo de carga. Aqueles, ali da esquerda, são os que assaltam pequenas agências nos interiores e aqueles outros, da direita, os que puxam carros e motos. Fiquei assustado. Estavam todos sentados, com seus carrões parados, isso tudo em plena segunda-feira. Hoje em dia, a maior parte deles mudou de endereço: alguns estão no cemitério, outros na cadeia e o restante mudou de bar.

Acho que devemos parar para repensarmos sobre o atual estado das coisas. Será possível contornar, minimizar ou solucionar tantas incoerências administrativas? Nossas ruas estão tomadas por "donos do espaço público"; a pirataria impera sobre a legalidade de quem paga para ter segurança e fazer crescer o país; a marginalidade, aliada aos excluídos da sociedade, cria vínculos e caminha numa nova ordem chamada de “crime organizado”. Os "responsáveis" pelo comércio das drogas têm, em seus chefões presos, as senhas para mandarem prender e matar quem quer que se meta em seus caminhos. Que o digam juízes, promotores, advogados, homens públicos probos e a ponta da justiça que está na linha de frente: o policial.

Certo dia, um rapaz de catorze anos teve o seu celular levado por um marginal – que lhe tirou o objeto encostando o cano de um revólver em sua cabeça. Este rapazinho, anos depois, viu a república onde mora ser invadida por ladrões – entraram de armas em punho (inclusive uma arma de calibre 12) – que tiveram a ousadia de pôr o carro deles para dentro da garagem, fechar o portão e, diante de jovens assustados – todos missionários –, levar o que eles tinham: celulares (para se comunicarem com suas famílias) e os poucos alimentos que havia na despensa (eles vivem de doações).

Depois de eles pedirem muito, rezarem muito, eles foram embora, deixando-os trancados dentro de um pequeno quarto. Este rapazinho, que já tinha sofrido um trauma de violência, viu, mais uma vez, o único bem material que possuía ser levado (explico: este rapazinho fizera voto de pobreza e só ficara com o celular para o caso de uma eventual necessidade), escreveu para o pai a seguinte cartinha:

“Deus me tirou tudo. Hoje eu não tenho nada, mas eu sou muito feliz por não ter nada e, ao mesmo tempo, ter tudo: Deus! Depois de tudo o que aconteceu conosco, a minha vida ficou mais livre. Livre de tudo o que ainda me fazia pensar neste mundo. Queria que todos soubessem o quanto é bom viver sem nada. Nada ter para tudo dar. É muito incrível! Quanto mais temos, mais apegados e presos ficamos, e quanto menos temos, mais a Deus nós temos. Te amo pai. Shalom.

Será possível viver com simplicidade, em harmonia com o seu semelhante, respeitando a velocidade do planeta, esquecendo-se da ganância, do poder, da riqueza, do prazer, mais perto da natureza e de Deus? Vamos pensar nisso...


Obs. Imagem da Web
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 04/11/2012
Reeditado em 21/04/2019
Código do texto: T3968641
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