DOIS PONTOS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
O que eu quero dizer é o seguinte, dois pontos: a diferença de dois pontos para um ponto, que se diz final, é que, com um ponto só, falou e disse; com dois pontos, ainda se vai falar. Ponto final é fecho. Dois pontos correspondem a um ponto em dose dupla, frequentemente sinalizando um feixe, pois enumerando, descrevendo, narrando, esclarecendo, exemplificando, comparando, dividindo, classificando. Ponto final é o todo; dois pontos são frações, partes, itens.
Musicalmente, dois pontos representam uma entoação típica da voz numa frase não concluída. Esse sinal, dois pontos, se antecipa ao ditado: quem conta um conto aumenta um ponto. O ponto já vem duplicado, na vertical, sinal que, em matemática, significa divisão. Curioso é que, nesta vida, lidamos sempre com dois pontos: eu e o outro, o próximo e eu. Ninguém é uma ilha. Em vez de divisão, adição. Mas tá certo: dividir o pão e somar o amor. Nós somos a soma de nossos atos. E todo ato é precedido de uma decisão, e uma decisão, de dois pontos. Quem se acha a última palavra não usa dois pontos. Usa ponto final. E pronto. Por isso é bom saber usar dois pontos, sinal de pontuação que abre, inicia, articula o diálogo. Bit, palavra usada em informática, é uma combinação de bi(nary) e (digi)t: dígito binário. Binário, e no ritmo.
Gustavo Corção escreveu o livro “A Descoberta do Outro”. A expressão “alter ego”, em latim, significa o outro eu, pessoa na qual eu posso confiar plenamente. Uma relação de dois pontos bem articulados e corretamente empregados. Usa-se também a expressão “solus cum solo” para significar a fecunda relação do natural com o sobrenatural, ponto sobre ponto.
Existencialmente, dois pontos lembram: um casal entrosado, um par de namorados, uma dupla de amigos, uma relação médico e paciente, cliente e profissional, político e... Ah! Como é mesmo o correspondente? Cidadão contribuinte e eleitor, dizem por aí, nos discursos e no horário político. Mas...