Crônica de Buenos Aires – Saudades e inquietações de uma brasileira apaixonada.
Daqui de longe vejo notícias inquietantes de minha amada cidade portenha e ponho a refletir dos acontecimentos recentes que não condizem com a realidade daquele país.
A primeira vez que fui à Buenos Aires, em abril de 2010, levei em minha mega mala um sonho de cursar doutorado em uma universidade federal e uma ansiedade tremenda em conhecer a cidade que respira cultura, de obras arquitetônicas fantásticas de uma culinária bem peculiar.
Com um espanhol rasgado de poucos meses estudado, encarei aquele desafio e firmei morada por belos e proveitosos quinze dias.
Naquele ano, percebi no bolso que se tratava de uma economia fraca, de uma moeda frágil e descartável, pois, em qualquer lugar que empreendia meu poderio de compra, aceitavam meus reais e meu disputado dólar. O peso ali não tinha peso, perdoe meu trocadilho, mas era aquela realidade.
Afinal de contas eu estava na capital federal, aluguei apartamento no bairro mais luxuoso daquela cidade, a Recoleta, e ainda assim meu singelo orçamento tupiniquim foi capaz de me saciar com certas gracinhas consumistas. O real se encontrava na proporção de dois pesos e setenta centavos, e isto era uma farra para nós brasileiros, que espertinhos sabíamos o dia e em qual casa de câmbio trocar nossa pratinha.
Percebia fácil a insatisfação dos portenhos ao conversar com alguns colegas argentinos e também com taxistas, digo que estes tinham que ser com jeitinho bem brasileiro.
Passou-se 2010, e novamente em julho de 2011 retornei a meus estudos por vinte dias na minha querida cidade sob a tensão das fumaças do Vulcão Puyehue do Chile.
A cidade respirava e celebrava a Copa América de Futebol, num frio congelante que perfazia a sensação térmica de 2º negativos. A rivalidade entre Brasil e Argentina ficava restrita à propaganda da Coca-Cola e o respeito mútuo entre os povos era evidente, afinal os dois países não tinham muitas esperanças naquela competição.
Os preços dos produtos no supermercado eram mais que o dobro do ano anterior, tudo estava mais caro e o real se encontrava na proporção de dois pesos e cinquenta centavos, na ponta do lápis parecia que compensava, mas, se pensasse bem, estava praticamente o mesmo preço aqui no Brasil. Nada assustador para quem já conhecia desta instabilidade financeira da Argentina e imaginava que tal variação era devida ao período considerado de alta temporada.
A cidade estava repleta de turistas, dava gosto de andar e esbarrar com brasileiros, que pareciam amigos de anos. A nossa brasilidade incomodava um pouco uns ranzinzas portenhos, porém eles eram reféns de nosso dinheiro. Não se falava e nem se cogitava, por mais evidente dos fatos, que o país estava em crise. Via-se pela televisão a inauguração da Tecnópolis com grande clamor público e declaração de poderio tecnológico.Talvez aquela fosse mais uma oportunidade para que a atual presidente saísse na frente na disputa presidencial que se aproximava.
O glamour portenho e seu convencimento ímpar os impediam de renderem-se àquela realidade trágica. Mas, ainda se podiam fazer compras, a Florida estava ainda envolvente e somos brasileiros, nosso real vale muito por lá.
Retornei a cidade portenha em abril de 2012 e meus estudos e minhas andanças me fizeram ficar por lá por dezoito dias. Desta vez fiquei preocupada com Buenos Aires, pois via pela TV pública de lá, a escassez de vários produtos alimentícios alertando a população pela limitação da quantidade que poderiam comprar. O real, na média, estava na casa de dois pesos e vinte centavos, às vezes bem menos. Tudo estava mais caro que no ano anterior, mas nada desesperador para a minha realidade.
Meu apartamento, que por sinal o prédio chamava “Little England”, era bem próximo da Embaixada da Inglaterra e nele tinha marcas de balas de uma manifestação de argentinos contra o ingleses ocorrida a alguns dias antes de minha chegada. Era monitoramento vinte e quatro horas por dia, pois aos fundos da Embaixada é a residência dos cônsules ingleses.
Naquela temporada, presenciei ainda à triplicação do preço dos pedágios pelo governo portenho e a conseqüente greve dos taxistas resultando na elevação do preço de suas corridas,
Era notória a agitação política Argentina, principalmente com sua indisposição declarada contra a Espanha com o confisco da petrolífera YPF privatizada no ano de 2008 e até mesmo com o Brasil, quando resolveram barrar nossos produtos aumentando o preço das exportações.
É comum passear pelas ruas de Buenos Aires e encontrar mendigos lendo livros, o que me causa indignação, pois como um país considerado politizado e culto deixa se governar por um modelo político suicida, nada populista, colocando em risco toda a sua população concordando com os ditames Kirchnerista e se isolando do resto do mundo?
Só para se ter ideia deste caos os argentinos, para viajarem, precisam de autorização do governo, prestam satisfação da quantia que vão levar, para onde irão e quando voltarão, resumindo: são muitas restrições e poucos, muitos poucos conseguem sair do país.
Os argentinos agora estão proibidos de comprar dólar e o governo está fiscalizando e planejando sérios confiscos destas verdinhas. Todas as compras de imóveis são feitas com peso ao invés do dólar.
E neste momento de grande insegurança jurídica, evidenciadas ficam as medidas adotadas pelo governo em restringir importações e operações com o dólar, fazendo com que lojas de grife como Yves Saint Laurent, Calvin Klein, Pólo Ralph Lauren, Kenzo, Louis Vuitton abandonassem a Recoleta Argentina fechando suas portas em caráter definitivo.
Desolador para os que ali vão para comprar por preços acessíveis exemplares destas marcas, mas o pior mesmo é para os próprios argentinos, que de natureza vaidosa, tem que aceitar e amargar no bolso esta prova concreta de economia cada vez mais estagnada.
A política argentina constitui hoje um tiro no pé da democracia, fere a inteligência daquela nação, humilha a população trabalhadora e mata a esperança dos mais pobres e infelizmente a tendência é piorar pois até o Jornal La Nación e Clarín reconhecidos pela suas imparcialidades estão sendo alvos implacáveis da censura daquele governo.
Mas Buenos Aires, minha Buenos Aires querida, é maior, é linda, é convidativa, seus vinhos, seu tango, suas parrillas, seus cafés, suas empanadas, suas praças, seus teatros, seu clima, seu povo, suas noites ainda encantam os que ali chegam e ficam enamorados pela sua grandiosidade que até esquecem que ali a política não funciona, somos hipnotizados pelo seu glamour e tememos seu fim, pois sabemos que a esperança por um país melhor não pode morrer nas mãos escorregadias do exército de uma bonequinha de luxo retrógrada.
Daqui de longe vejo notícias inquietantes de minha amada cidade portenha e ponho a refletir dos acontecimentos recentes que não condizem com a realidade daquele país.
A primeira vez que fui à Buenos Aires, em abril de 2010, levei em minha mega mala um sonho de cursar doutorado em uma universidade federal e uma ansiedade tremenda em conhecer a cidade que respira cultura, de obras arquitetônicas fantásticas de uma culinária bem peculiar.
Com um espanhol rasgado de poucos meses estudado, encarei aquele desafio e firmei morada por belos e proveitosos quinze dias.
Naquele ano, percebi no bolso que se tratava de uma economia fraca, de uma moeda frágil e descartável, pois, em qualquer lugar que empreendia meu poderio de compra, aceitavam meus reais e meu disputado dólar. O peso ali não tinha peso, perdoe meu trocadilho, mas era aquela realidade.
Afinal de contas eu estava na capital federal, aluguei apartamento no bairro mais luxuoso daquela cidade, a Recoleta, e ainda assim meu singelo orçamento tupiniquim foi capaz de me saciar com certas gracinhas consumistas. O real se encontrava na proporção de dois pesos e setenta centavos, e isto era uma farra para nós brasileiros, que espertinhos sabíamos o dia e em qual casa de câmbio trocar nossa pratinha.
Percebia fácil a insatisfação dos portenhos ao conversar com alguns colegas argentinos e também com taxistas, digo que estes tinham que ser com jeitinho bem brasileiro.
Passou-se 2010, e novamente em julho de 2011 retornei a meus estudos por vinte dias na minha querida cidade sob a tensão das fumaças do Vulcão Puyehue do Chile.
A cidade respirava e celebrava a Copa América de Futebol, num frio congelante que perfazia a sensação térmica de 2º negativos. A rivalidade entre Brasil e Argentina ficava restrita à propaganda da Coca-Cola e o respeito mútuo entre os povos era evidente, afinal os dois países não tinham muitas esperanças naquela competição.
Os preços dos produtos no supermercado eram mais que o dobro do ano anterior, tudo estava mais caro e o real se encontrava na proporção de dois pesos e cinquenta centavos, na ponta do lápis parecia que compensava, mas, se pensasse bem, estava praticamente o mesmo preço aqui no Brasil. Nada assustador para quem já conhecia desta instabilidade financeira da Argentina e imaginava que tal variação era devida ao período considerado de alta temporada.
A cidade estava repleta de turistas, dava gosto de andar e esbarrar com brasileiros, que pareciam amigos de anos. A nossa brasilidade incomodava um pouco uns ranzinzas portenhos, porém eles eram reféns de nosso dinheiro. Não se falava e nem se cogitava, por mais evidente dos fatos, que o país estava em crise. Via-se pela televisão a inauguração da Tecnópolis com grande clamor público e declaração de poderio tecnológico.Talvez aquela fosse mais uma oportunidade para que a atual presidente saísse na frente na disputa presidencial que se aproximava.
O glamour portenho e seu convencimento ímpar os impediam de renderem-se àquela realidade trágica. Mas, ainda se podiam fazer compras, a Florida estava ainda envolvente e somos brasileiros, nosso real vale muito por lá.
Retornei a cidade portenha em abril de 2012 e meus estudos e minhas andanças me fizeram ficar por lá por dezoito dias. Desta vez fiquei preocupada com Buenos Aires, pois via pela TV pública de lá, a escassez de vários produtos alimentícios alertando a população pela limitação da quantidade que poderiam comprar. O real, na média, estava na casa de dois pesos e vinte centavos, às vezes bem menos. Tudo estava mais caro que no ano anterior, mas nada desesperador para a minha realidade.
Meu apartamento, que por sinal o prédio chamava “Little England”, era bem próximo da Embaixada da Inglaterra e nele tinha marcas de balas de uma manifestação de argentinos contra o ingleses ocorrida a alguns dias antes de minha chegada. Era monitoramento vinte e quatro horas por dia, pois aos fundos da Embaixada é a residência dos cônsules ingleses.
Naquela temporada, presenciei ainda à triplicação do preço dos pedágios pelo governo portenho e a conseqüente greve dos taxistas resultando na elevação do preço de suas corridas,
Era notória a agitação política Argentina, principalmente com sua indisposição declarada contra a Espanha com o confisco da petrolífera YPF privatizada no ano de 2008 e até mesmo com o Brasil, quando resolveram barrar nossos produtos aumentando o preço das exportações.
É comum passear pelas ruas de Buenos Aires e encontrar mendigos lendo livros, o que me causa indignação, pois como um país considerado politizado e culto deixa se governar por um modelo político suicida, nada populista, colocando em risco toda a sua população concordando com os ditames Kirchnerista e se isolando do resto do mundo?
Só para se ter ideia deste caos os argentinos, para viajarem, precisam de autorização do governo, prestam satisfação da quantia que vão levar, para onde irão e quando voltarão, resumindo: são muitas restrições e poucos, muitos poucos conseguem sair do país.
Os argentinos agora estão proibidos de comprar dólar e o governo está fiscalizando e planejando sérios confiscos destas verdinhas. Todas as compras de imóveis são feitas com peso ao invés do dólar.
E neste momento de grande insegurança jurídica, evidenciadas ficam as medidas adotadas pelo governo em restringir importações e operações com o dólar, fazendo com que lojas de grife como Yves Saint Laurent, Calvin Klein, Pólo Ralph Lauren, Kenzo, Louis Vuitton abandonassem a Recoleta Argentina fechando suas portas em caráter definitivo.
Desolador para os que ali vão para comprar por preços acessíveis exemplares destas marcas, mas o pior mesmo é para os próprios argentinos, que de natureza vaidosa, tem que aceitar e amargar no bolso esta prova concreta de economia cada vez mais estagnada.
A política argentina constitui hoje um tiro no pé da democracia, fere a inteligência daquela nação, humilha a população trabalhadora e mata a esperança dos mais pobres e infelizmente a tendência é piorar pois até o Jornal La Nación e Clarín reconhecidos pela suas imparcialidades estão sendo alvos implacáveis da censura daquele governo.
Mas Buenos Aires, minha Buenos Aires querida, é maior, é linda, é convidativa, seus vinhos, seu tango, suas parrillas, seus cafés, suas empanadas, suas praças, seus teatros, seu clima, seu povo, suas noites ainda encantam os que ali chegam e ficam enamorados pela sua grandiosidade que até esquecem que ali a política não funciona, somos hipnotizados pelo seu glamour e tememos seu fim, pois sabemos que a esperança por um país melhor não pode morrer nas mãos escorregadias do exército de uma bonequinha de luxo retrógrada.