PONTO FINAL

Prof. Antônio de Oliveira

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Ponto final pode ser final de muita coisa. Final feliz ou infeliz; positivo ou negativo. Se feliz, representa o desenlace bem-sucedido das peripécias do enredo de uma peça, filme, romance, novela. Ou de situações da vida real. Fim de linha. Como sinal de pontuação, é ponto. Encerra um enunciado. Pensamento concluído. E basta! Não é preciso dizer mais nada naquele parágrafo. Enunciado pontuado, idéia encerrada. No último verso de um soneto pode ser significativo ou insignificante. Alguns poemas de Mallarmé não têm nenhuma pontuação. Nem ponto final.

No Livro do Desassossego, Fernando Pessoa diz que “a vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação; na dúvida, há um ponto final”. Para muitos, a coisa mais importante da vida é vencer na vida. Para Pedro Bloch, em Receita de Viver, no entanto: “Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida, não se realizar. O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final.” É que, por natureza, o ser humano se realiza vivendo. Quem se considera realizado só usa um sinal de pontuação, o ponto final. Porém um ponto final ditadura do efêmero, felicidade de curto prazo. Mesmo porque, sendo um estado de espírito, não existe felicidade a curto prazo. Portanto, um enorme respeito à vida, aos seus sinais de pontuação; um profundo respeito ao ritmo de cada um, de cada uma. Com ou sem razão, coerentemente Saramago economiza sinais de pontuação em seus escritos. Para ele, “sinais de pontuação são como os de estrada”. “Se tivéssemos menos deles”, conclui Saramago, “haveria por certo menos acidentes, porque as pessoas fariam tudo mais devagar e com maior atenção”.

Nesta vida, o ponto final deve ser usado apenas em determinadas situações, como para botar um ponto final nas tristezas, nas mágoas, nos ódios e ressentimentos, no sentimento de vingança e de retaliação. Até na escrita se pode substituir por ponto onde escritores clássicos usariam ponto-e-vírgula, ou mesmo vírgula. Em suma, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Drummond pergunta: “Stop /a vida parou / ou foi o automóvel?” Aliás, nada de sujeição submissa. Ninguém é última palavra. Ninguém é ponto final. Basta a sujeição ao destino. Mesmo assim, segundo Jung, tudo aquilo que chega à consciência volta sob a forma de destino.

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 03/11/2012
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