Grandes Jogadores: Carreiro

Muito se tem escrito sobre grandes jogadores. Há livros sobre o assunto, inclusive de destacados e respeitados jornalistas esportivos. Mas mesmo caprichando, às vezes, escapam alguns grandes craques que deveriam se lembrados, pelo que fizeram em seus clubes e pela sua qualidade demonstrada, quando atuaram pela Seleção de seu Estado (sim, pois quando não existia o campeonato brasileiro de clubes, havia o de seleções estaduais) ou pela Seleção Brasileira.

O nosso jogador de hoje, desta crônica, é João Batista Siqueira. Mas por este nome poucos o conheceriam. Apenas aqueles esportistas que conviveram com ele. Para o futebol João Batista Siqueira foi o conhecido ponta esquerda Carreiro.

Carreiro surgiu no hoje modesto São Cristóvão de Futebol e Regatas, a equipe conhecida como “Cadete” do Rio de Janeiro. A equipe alva teve seus dias de glória: ganhou o campeonato carioca de 1926 e foi vice em 1934. Também conquistou o Torneio início por 4 vezes (1918, 1928, 1933, 1937).

Mas voltemos a Carreiro que surgiu em 1935 no São Cristóvão F. R. e que segundo o cronista esportivo Aurélio Campos, considerado por muitos um profundo conhecedor do Futebol Brasileiro, era o melhor ponta esquerda brasileiro de todos os tempos. Carreiro era rápido, franzino, tinha um drible seco que não havia zagueiro que o marcasse, nem apelando para a violência. O seu jogo era sempre produtivo, dava passes fantásticos e também fazia gols.

Por ocasião da Copa do Mundo de 1938, na França, Carreiro era o melhor ponta esquerda do Brasil, mas o senhor Ademar Pimenta, diretor técnico da Seleção não o convocou para a Copa para dar lugar a Hércules e Patesko. Ademar Pimenta dizia que Carreiro não tinha envergadura para enfrentar os europeus, esquecendo-se que Carreiro enfrentava no Campeonato Carioca zagueiros muitas vezes mais duros e violentos do que os jogadores da Europa como Poroto (do Vasco), Norival (do Fluminense), Cazuza (do Madureira) e Camarão (do Bangu), que não alisavam para ninguém. Mas foi uma escolha errada do Senhor Ademar Pimenta, técnico da Seleção do Brasil de 1938.

Carreiro atuou pelo São Cristóvão até novembro de 1939 formando numa equipe base com Madalena, Hernandes e Mundinho; Arquimedes, Dodô e Afonsinho; Roberto, Villegas, Joaquim, Nena e Carreiro. Nessa época o São Cristóvão era muito difícil de ser batido. O seu time tinha a melhor zaga do Rio de Janeiro formada por Hernandes e Mundinho.

Tinha também o médio Afonsinho, titular da Seleção Brasileira de 1938, o ponta direita Roberto que também esteve na Copa de 1938 e ele, Carreiro.

Pouco tempo depois, em 1940, o Fluminense F. C. montava um grande elenco que ganharia o campeonato carioca com facilidade e, então, foi buscar Carreiro no São Cristóvão, o melhor ponta esquerda do Brasil. O tricolor foi campeão carioca com este time base: Batatais, Moisés e Machado, Bioró, Brandt e Malazzo; Pedro Amorim, Romeu, Milani, Hércules e Carreiro. O Fluminense ainda contava com a possibilidade de formar uma linha composta por Pedro Amorim, Russo, Romeu, Tim e Carreiro, uma verdadeira Seleção Brasileira.

Carreiro brilhou no Fluminense até 1943 e muito em breve iria parar. Talvez as pancadas recebidas através dos anos não o deixaram ir mais longe. Ainda tenho um álbum de figurinhas de 1947 onde o São Cristóvão contava com vários veteranos. Se a minha memória não falha a formação do time cadete nesse álbum era: Joel, Mundinho e Pelado; Índio, Souza e Emanuel; Paulinho, Mical, Caxambú, Magalhães e Carreiro.

Carreiro sempre será lembrado por que, mesmo sendo magrinho, em várias Copas Roca e Copas Rio Branco, nunca afinou para os zagueiros argentinos e uruguaios. Por isso Carreiro era admirado pelos argentinos que diziam que ele, Zizinho, que estava surgindo, e Zezé Procópio seriam titulares em qualquer clube argentino.

Quando algum entendido de futebol quiser escrever sobre jogadores brasileiros que deixaram saudades, nunca poderá se esquecer de reservar algumas linhas para Carreiro.

Laércio
Enviado por Laércio em 03/11/2012
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