GUSTAVO LIMA OU CHICO BUARQUE?
Se torna um tanto quanto prepotente você reduzir uma produção artística e cultural ao nível do que você gosta ou não. Ou seja, dizer que um artista é bom ou ruim só pelo fato de você gostar dele ou não. Isso vale para toda e qualquer produção artística.
É como Gabriel Pensador disse: “eu resolvi ouvir um som bem diferente pra poder mudar o gosto indigesto, mas me peguei assobiando aquela música cafona que eu detesto, mas que me emocionar e me faz bem”.
E é justamente nesse diapasão que a crítica deve acontecer. Ora, existem músicas, por exemplo, que nos sensibilizam, mas nem por isso quer dizer que anule, no sentido racional de perceber se a música que nos emociona é importante ou não pra nossa formação humanística.
Claro, Existe um poder sensitivo que me leva a gostar de determinada produção artística, independente de ser altamente cultural ou não, mas nem por isso elimina o dever de criticar essa produção como eficiente ou não para uma mudança comportamental dentro da sociedade.
Por exemplo, nada impede, nem obsta, nem é coisa de gente de inferioridade intelectual gostar de funk ou pagode etc.. Porém, mesmo gostando de Tati Quebra Barraco, isso não lhe dar o direito sublime, por si só, de dizer que sua produção artística é de fundamental importância para os rumos da alta cultura capaz de transformar critica e positivamente uma sociedade, nem de desmerecer, por exemplo, Noel Rosa, como um artista que tem o poder de, através de sua arte poética, transformar positivamente os rumos culturais de uma determinada classe, independente de faixas. Afinal, veja o Rap, este é um ritmo que advém da periferia, geralmente feito por pessoas que não tiveram um estudo bem apurado, porém é de uma transformação humanística enorme. Mano Brow bota qualquer MPBista no bolso. O que, Claro, também não quer dizer que Tati Quebra Barraco transforma negativamente um meio social. Não é isso. Ela, como tantos outros, apenas entretém, usa de um ritmo, e só.
Ora, Fazer de Tati, Restart ou Garota Safada uma filosofia de vida artística, aí sim é onde reside a mediocridade cultural dessa produção artística que um determinado cidadão se propõe ostentar como grandessíssima cultura. Assim como, não reconhecer, por exemplo, que, a música de Gilberto Gil, ou o Tropicalismo, a Bossa Nova ,o movimento rock ,ou o reggae não são fundamentais só porque desses ritmos a pessoa não gosta ou não desperta a sensibilidade poética nela. E mais, não só porque sua racionalidade é capaz de perceber que esses movimentos são fundamentais para transformações positivas e, paralelamente, lhe sensibiliza, não lhe dar também o direito de desmerecer as outras produções artísticas que sensibilizem outras pessoas. Mas só sensibilizem. Pois o critério racional de produção artística modificante de uma determinada classe é unívoco: só vale ser transformar positivamente um meio cultural e positivamente.
Mas o que seria essa transformação positiva? A meu ver, uma transformação que tire alguém do estado medíocre de ver e agir socialmente, passando esse alguém a repensar melhor certos valores sociais como lazer, política, família, amor romântico, amor ao próximo, propriedade, liberdade etc.
Enfim, acho que há uma sutil diferença entre entretenimento e alta cultura de modificação social positiva. Pense, assim como é quase que inconcebível racionalmente sair de casa e vestir a melhor roupa para ir ao teatro prestigiar Cláudia Leite ou Ivete Sangalo, num tom de alta cultura, torna-se quase que inconcebível também sair de casa para ir em uma micareta e chegar lá encontrar Marisa Monte ou Zélia Ducan em cima de um trio elétrico cantando “"Líri Little Richard, timbaleiro, embalaembalaembalatumtumtumbabauê" ou “Poeira”. Por mais que Ivete tenha feito um especial com Gil e Caetano.
Por fim, ficam os questionamentos: será que existe mesmo essa coisa de música boa e música ruim? Será que, só por que fulano(a) é fã de Michel Teló, ele(a) é alguém inferior intelectualmente? Será que, só porque fulano curte Gilberto Gil ou Milton Nascimento é alguém superior intelectualmente?
Até porque, se o critério for esse, fica meio injusto chamar de burra uma faxineira honesta que só arruma a casa ouvindo Gustavo Lima, porém chamar de culto um político que só ouve Chico Buarque e Toquinho, mas que só usa do cargo público eletivo pra se locupletar. Portanto...