AS PALAVRAS

Às vezes me vislumbro como um enorme oceano de palavras que se alimenta das chuvas dos dicionários e se encarrega de se transformar em correnteza para levar adiante o conhecimento e a sabedoria, tudo no dorso macio e manso da humildade. E nesse desenvolver de idéias que me transformam num mural exposto ao mundo, encho-me no deleite dos inúmeros ventos que fazem de meus versos esse universo de nítidas emoções quase desencontradas, leves porém difusas, claras e no entanto misteriosas, livres e prisioneiras, titânicas e frágeis, emoções que me comovem e divertem, que me libertam das amarras inúteis da solidão.

Sou absolutamente convencido pela força dinâmica dos vocábulos e o deslumbre de seus eflúvios sempre cativantes, de maneira que facilmente me entrego de alma e coração às descobertas que me surgem em volumoso borbotão, ao seu despejar cascateante de interessantes conteúdos ao, descalabro repentino de suas diversas interpretações, ao rumo tresloucado seguida por tantas delas, ao fluir silencioso, brando e cândido de sua ternura quixotesca, ao imediatismo de suas visões bruscas e toscas, nobres e ternas, belas enfeitiçadoras, fascinantes, estúpidas, devastadoras, carinhosas, insanas e mórbidas.

Porque, sem duvida nenhuma, as palavras fascinam a homens e mulheres de todos os confins da Terra pela magia surpreendente que delas emana, pelo fulgor de tantos brilhos e esplendores misteriosos de onde brotam as surpresas e as curiosidades, pois elas são o esboço das aquarelas, os aluviões das novidades, os filões do ouro literário, a busca desesperada pelo ineditismo, o arroubo desenfreado dos que se alinham no frontispício beletrismo para semear a maravilhosa arte de escrever e extasiar. Tudo praticamente se inicia com a prévia junção das palavras compondo a história, a ficção, a diversão, o sonho, a fantasia, indo essa verdadeira partitura das letras por caminhos ás vezes nunca dantes conhecidos, atravessando estradas jamais pisoteadas, adentrando horizontes soberbos, extasiando quantos a elas tem acesso.

Eu danço qualquer ritmo ou música orquestrada pelas palavras, sapateio conforme me for determinado por seus ditames, voluteio num tango gracioso se assim for necessário, bailarei num bolero à guisa de servo obedecendo o enfoque delas, vibrarei com a mesma intensidade das cordas de um violino, bem como sambarei se necessário for ao som dum bandolim. Vivo das e pelas palavras a maior parte dos meus dias, delas sou constante aliado, a elas, quase em desespero, procuro cotidianamente como o noivo a sua amada, como os beija-flores às suas perfumadas, como a escuridão à luz. Por conseguinte conduzem-me as suas regras e também as exceções, dão-me vida e ilusões as quais alimentam minha alma e fazem de meu viver algo mirabolante, rico em emoções, alegria e paz.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/11/2012
Código do texto: T3966321
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