Normal X Patológico
As salas de espera sempre são recheadas de vários assuntos, dialogamos com muitas pessoas na expectativa de ser atendido por um médico, advogado, ou qualquer outro profissional que exija tempo de espera. Neste intervalo, nos aproximamos de muitos e formamos um grande grupo de pessoas adeptas a discutir diversos assuntos. Certo dia o tema que ponderava em uma destas salas era a diferença entre o normal e o patológico. E o que é normalidade? O que é patologia?
Deixei o consultório e fui pensar mais sobre o tema em questão... Os livros nos trazem que do ponto de vista histórico a separação entre o normal e o patológico estava envolta a questões sobrenaturais. A concepção sobrenatural da saúde e da doença tinha um cunho marcadamente individualista. A convicção de que a saúde e a doença eram fenômenos que interessavam unicamente àquele que as experimentava, originada da crença na origem sobrenatural do transtorno, se estendeu além e influiu no pensamento médico, mesmo quando se firmara a convicção sobre a saúde e a doença como fenômenos naturais. Porém, hoje em dia, utilizam-se critérios operacionais para a distinção clínica entre o normal e o patológico.
O sonho de toda e qualquer pessoa é de se considerar alguém dentro dos padrões estabelecidos por um grupo, cultura ou sociedade. Ser diferente é chamar a atenção para si, o que nem sempre é algo "bom". Diferenciar o que é normal daquilo que é diferente ou anormal, nem sempre é tarefa fácil. Mesmo em diferentes culturas o que é chamado de "normal" não o é em outras. Mesmo na Medicina, o termo "normal" e "patológico" ou "anormal" é muito impreciso, apesar de ser necessária sua definição para objetivar a sua classificação. (Luis C. Bethancourt)
Nas definições do Aurélio normal é tudo aquilo que é habitual, comum. Conforme a norma. E patologia são modificações produzidas no organismo por doença. Descartando estas definições, usamos com freqüência nossa régua de raciocínio para medir a normalidade dos outros, as patologias, e diferenciamos um do outro. O normal, o permitido, e o culturalmente aceito permeiam nossas vidas. Enquanto abominamos práticas do consumo da carne de animais tidos por nós como de estimação, no Japão são comercializados de forma livre, em praça pública, os cães são expostos sem pele, “prontos para o consumo”. Imagens repugnantes! A cultura deles rege a normalidade em vender e consumir o tipo de carne que para nós é prática inaceitável, que foge do nosso conceito normalidade. Aliás, tantas são as práticas executados no Japão que ultrapassam a linha da nossa tese do que é normal. Alguns povos quebram tabus, e balançam traços culturais quando procuram no “proibido” a prática. Difícil atenuar o normal do patológico, quando sabemos que estes estão intrinsecamente ligados a questões de cultura.
Com olhos brasileiros rodeamos o mundo de povos que divergem de nossos aspectos culturais, cada um carrega uma prática tida como normal, que é vista por outros com espanto. Há uma seita hindu, cujos membros são denominados Aghoris onde é habitual meditar sobre cadáveres, logo a carne do defunto é consumida. Na china há uma tradição denominada Foot Binding, onde as mulheres que são adeptas a ela, amarram seus pés e usam sapatos extremamente pequenos desde muito novas, o objetivo é interromper o crescimento dos pés, acabam ganhado uma forma bizarra, mas a cultura chinesa sentencia que quanto menor o pé da mulher, maior o status. São fatos que nos impressionam, mas que são tidos como normais por muitos.
Caminhamos em passos lentos, quebramos paradigmas, continuamos com eles. Somos rotulados como loucos ou normais. A diferença entre os dois termos não esta definida, se construí a cada dia com uma nova cultura, com uma nova ideia, que vem para delimitar, demarcar. Que vem para dizer que a normalidade que entendemos é a loucura que desprezamos. Somos normais? Ou somos loucos? Existe meio termo? E canta Caetano Veloso: “...De perto, ninguém é normal...”