RETICÊNCIAS...

Prof. Antônio de Oliveira

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Os sinais de pontuação marcam o compasso e a harmonia na entonação das palavras. Conhecidos também como pontos de suspensão, pontinhos, três-pontinhos, os pontos de reticência indicam um certo suspense. Dot dot dot, como na canção Honey Honey, de Mamma Mia. Reticenciar indica, pois, interromper a cadência, num texto, seja porque fica facilmente subentendido o que não foi dito, seja porque a conclusão é evidente, seja porque é intencional a omissão de uma coisa que se deveria ou se poderia dizer, mas apenas se sugere. Inclusive depois de uma interrogação (?...) ou de uma exclamação (!...). Em certos casos pode haver uma segunda intenção e até uma terceira intenção. A interrupção proposital no meio de uma frase atende pelo pomposo nome de aposiopese, como em: Filho de peixe... (subentendido: peixinho é).

“Reticências”, segundo Mário Quintana, “são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho”. Ainda Quintana: “A maior conquista do pensamento ocidental foi o emprego das reticências”.

Alguns veem nas reticências um sinal de emoção expresso graficamente pela sucessão de três pontinhos. Em que pese ao recurso antiecológico a uma expressão politicamente incorreta, reticenciar é um “quebra-galho” de quem não tem mais nada a dizer, afirmam outros. Há histórias feitas de reticências como há histórias em que o autor abusa das reticências. Reticente é aquele que demonstra reticência ou reserva. Sinônimo, portanto, de reservado, discreto, prudente, reticencioso. Ou mesmo irônico. Uma declaração reticenciosa é aquela em que há reserva.

Reticências, portanto, para a censura que reticencia a liberdade de expressão. Reticências também para quem desconfia sem nenhum fundamento, espalha fofoca, nunca fala direto para a pessoa interessada. Reticências, e bota reticências nisso... hum! para o político corrupto, exprimindo-se aqui, com o reforço da interjeição, dúvida, desconfiança, impaciência, indignação. A reticência, “esse véu de pontinhos”, pergunta José de Alencar, em Lucíola, “não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na sociedade?”

Em suma, há controvérsias. Reticências... Então, use com moderação...

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 02/11/2012
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