QUINZE MINUTOS

  Ela gostava de aparecer e para isso não media esforços. Fazia o impossível para chamar a atenção.
  Tudo o que lhe acontecia, de unha encravada a dermatite do couro cabeludo, virava notícia – divulgada por ela, é claro. Num dia perdia o celular, no outro machucava o dedo, no terceiro dia pegava uma gripe atroz e no seguinte era assaltada.
  Só ela achava que estava dando IBOPE; ninguém mais prestava atenção em suas lamúrias; alguns sequer se preocupavam em tomar conhecimento; simplesmente pensavam: lá vem aquela chata! As pessoas não têm paciência com as mazelas alheias durante muito tempo... isso pode parecer cruel, mas é a pura realidade; todos estão muitíssimo ocupados com seus próprios problemas.
  Quando eu era menina, minha avó contava uma historinha infantil – ou filme de terror? – em que uma garotinha, a fim de chamar a atenção da mãe, inventava que a boneca queria comê-la e gritava: mamãe, a Mori-Mori – era o nome da boneca – quer me comer! Quando a mãe corria para socorrê-la, encontrava-a rindo e dizendo que só queria ser beijada. Chegou o dia em que a mãe não atendeu ao seu chamado e quando entrou, mais tarde, no quarto da filha, encontrou a boneca com a boca ensanguentada e o que restava da filha em destroços pelo chão. Ela contava isso, com a intenção de ensinar que não devíamos inventar histórias para chamar a atenção, porque quando fosse verdade ninguém mais acreditaria. A historinha é somente para ilustrar o que aconteceu a seguir.
   Certo dia, a exibida contou que estava mal, praticamente nas últimas, e que só um milagre a salvaria da morte certa. Como na história da Mori-Mori, ninguém lhe deu ouvidos. Depois dessa notícia, ela ficou em silêncio total.      Estranharam... o que teria acontecido? Alguém mais piedoso – ou curioso – resolveu mandar um e-mail para ela, perguntando o que estava acontecendo. A resposta lhe chegou, enviada por uma pessoa da família: dizia que ela havia falecido em decorrência de grave doença.
   A notícia correu de e-mail em e-mail... Todos leram, menos ela que perdeu seus quinze minutos de fama.
                        
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                      RJ, 27/09/12
      ( não aceito duetos, por favor)