O soninho da beleza


 
Tia Ceição gostava de tirar uma soneca depois do almoço. Quando pequena, se estivesse em sua casa, ela queria que eu fizesse o mesmo, o que para mim era um horror. Ela me punha no quarto, fechava a janela e recomendava que ‘dormisse’. Obediente, eu me deitava por cima das cobertas e fechava os olhos com força. Sem a menor vontade de dormir, dava um tempinho para que ela pegasse no sono lá no outro quarto, depois saia de fininho e ia brincar no quintal. Ela dizia que esse soninho fazia bem para a saúde, deixava a pele do rosto mais bonita, palavras que nem de leve me interessavam...

Tempos depois, eu também fui atacada por esse ‘mal’, logo depois do almoço parece que meus olhos não conseguem ficar abertos. Com esse calor então! Quando jovem, dava uma esticadinha no sofá da casa de meus pais. No trabalho, cheguei a almoçar depressa só para ter tempo de fechar um pouquinho os olhos, sentada mesmo, na sala dos professores. Agora que a idade me permite, tenho toda a liberdade de deitar no sofá e tirar um soninho. Na maioria das vezes chego a dormir profundamente e o mais interessante é que para isto não gasto mais do que quinze ou vinte minutos. E acordo renovada, bem disposta para continuar a jornada.  

Há, porém, um dia da semana em que fico atrapalhada. É quando a diarista está por aqui fazendo seu trabalho. Se ela me flagar deitadona no sofá, o que é que vai pensar?...  Madame preguiçosa é o mínimo!

Tento resistir e quando não consigo de jeito nenhum, disfarçadamente entro no meu quarto e fecho a porta. Meia hora depois, saio de lá vestida com outra roupa...