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SERENATA URBANA


Acho que eu deveria ter uns quatorze ou quinze anos... 

Minha irmã morava no oitavo andar de um prédio no centro da cidade de Petrópolis, e eu estava sempre lá, já que tomava conta de minha sobrinha Cris (na época, com um ou dois anos) para que ela pudesse trabalhar. Saía da escola e ia para a casa dela.

Um dia, eu estava à janela do prédio, quando percebi que no prédio em frente, em um andar mais baixo, alguns jovens tocavam violão na varanda. Fiquei olhando, curiosa, como toda menina da minha idade. Foi quando um deles olhou para cima e me viu à janela. Fingi que estava olhando a rua, e logo depois, entrei.

Alguns dias se passaram, e novamente dei de cara com os meninos. Eram três. Um deles acenou para mim, e sinalizou, pedindo meu telefone (ele devia pensar que eu morava no prédio). Fingi, de novo, que não era comigo. Naquela época, eu estava interessada em outro menino, um garoto da escola.

Mas um dia, o telefone tocou, e eu atendi. Uma conversa um tanto estranha aconteceu:

Eu: Alô!
Ele: Alô! Aí é o apartamento onde tem uma menina de cabelos pretos e compridos?
Eu, um tanto confusa e desconfiada: Quem está falando?
Ele: É o garoto do prédio em frente ao seu. Meu nome é *!
Eu: Ah... oi! (senti o rosto corar).
Ele: Como é seu nome?
Eu: Meu nome é Ana.
Ele: Será que a gente podia conversar lá embaixo?
Eu: Agora não dá, mas amanhã...
Ele: Sabe, eu sei tocar violão. Posso fazer uma música para você?
Eu, ainda mais desconfiada: Ué... pode!

E alguns dias depois, eu estava sentada no sofá assistindo TV, quando escuto, vindo da pracinha lá embaixo, um bando de meninos cantando e tocando violão. Não dava para entender direito o que eles diziam, mas eu tive que ir até a janela, quando ouvi meu nome sendo gritado em um refrão:

"Oh AAAANAAA!!!"

Depois daquilo, ficamos amigos, mas não aconteceu nada; afinal, eu estava interessada em outro menino. Mas posso dizer que eu tive sorte, pois fizeram uma serenata para mim! Uma serenata um tanto urbana, em uma pracinha do centro da cidade, no meio da hora do rush.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 02/11/2012
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