Animando desenhos

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Personagem 1 – Washington Penha:

Perdido na trama de sua própria vida. Acha-se no direito de tirar de outrem o que não lhe pertence valendo-se de subterfúgios tais como a mentira descarada de um lado e a omissão de informações de outro. Não enfrenta abertamente. (Sempre que você fizer um esboço mantenha uma linha vertical mental que passa pela figura em algum lugar). 

Personagem 2 – Patricia: 

Rancorosa. Materialista. Julgadora, jamais ouviu falar na máxima “quando você julga, você define a si mesmo”. (Ângulos e tensão são elementos importantes no desenho). 

Personagem 3 – Estefânia: 

Inocente e só será capaz de entender algo dos fatos dentro de mais ou menos 30 anos. De qualquer forma, sempre que se tira uma figura da norma perpendicular, cria-se tensão. Há anos Estefânia vem sendo tirada da norma. Sua tensão é natural devido a parca naturalidade dos que a cercam. (Os inocentes, mais cedo ou mais tarde, são libertos). 

Personagem 4 – O Adulto:

Percebeu tarde demais e apenas num relance a armadilha que criara para si mesmo, séculos atrás. Por hora espera uma nova forma e começa timidamente supor que o fator primordial capaz de colocar um desenho acima do nível básico é a sinceridade do gesto. 

Personagem 5 – Angelina:

Viúva do coronel Diogo, um homem que foi macho sem ser homem, apenas nos últimos 25 anos tomou ciência de si mesma e vive a cada dia nutrindo o desejo de se libertar da trama e falar a verdade, colocar pingos nos "is" e fazer justiça. Quando chega o próximo dia ela permanece calada retomando assim seu papel de cúmplice, mesmo que no fundo isso a incomode. Todas as noites surge em sua mente a impossibilidade de coletar um número suficiente de reproduções de poses para atender a todas as suas necessidades.

Nota: o desenhista supõe que Angelina seja uma boa pessoa e tem certeza absoluta da inocência de Estefânia.

Personagem 6 – Stela:

Inexistem odes para Stela em canto algum, em universo algum, em galáxia alguma. Com aproximadamente xis anos de idade Stela conseguiu transformar (pela torpeza de seus atos) essa existência – e as próximas - numa nulidade tal que até mesmo os caminhos espirituais mais elevados lhe estenderiam a mão com reservas. Uma espertalhona com nome falso seria um eufemismo que abrange somente um ínfima parcela de sua por assim dizer personalidade. (Cada desenho tem um único tema para o qual a atenção dos espectadores deve ser direcionada). O desenhista pondera e pensa em rabiscar tal rotulagem, entretanto, ele tem ciência de que ninguém escreveria para ela uma canção, a exemplo de Stela by Starlight.

Personagem 7 – Celso OK:

Dissimulado, escreve coisas daninhas sobre pessoas para proveito de terceiros. Sua caligrafia asséptica removeu a linha invisível de autoproteção. Nesse instante se encontra à mercê de qualquer evento.

Personagem 8 – O Tolo:

O mundo não poupa os tolos, e este em específico só permanece na terra porque o céu o protege. O céu tem seus mistérios. Tendo comungado com essas caricaturas em maior ou menor grau, sempre exigiu demais dos outros, dando em troca nada além de um tolo.

O desenhista observa as figuras e pensa que essa história, afinal, talvez não dê em nada. Ele se move até a janela, acende um cigarro e, exaurido pelas notícias da violência reinante em sua cidade, se pergunta se não seria um fenômeno qualquer trabalho de criação artística em meio a desenlaces tão negativos. Depois conclui que toda vida é um milagre, mesmo aquela revestida de imbecilidade e truculência. Situações são crenças, crenças são causas, murmurou para si, dando a última tragada.

Voltou para a prancheta e, diante dos esboços, atinou faltar a cada um deles um coração compassivo. Será? Da indagação ao dicionário, para examinar os trajes de compassivo:

“Compadecido, condoído, exorável, piedoso, apiedado, penalizado, enternecido, abalado, abrandecido, amolecido, comovido, humano, benigno, bom, bondoso, humanitário, mavioso, agradável, ameno, brando, deleitável, doce, harmonioso, terno, misericordioso, benévolo, clemente, devoto”.

Distanciou-se meneando a cabeça até ponderar um quinhão que hoje não estava para histórias. Jogou a folha pela janela, quiçá num gesto de protesto contra o que a cidade emitia. Ruminando acerca de palavras e traços, foi dormir com os seguintes versos:

“Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias”.


 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 02/11/2012
Reeditado em 11/06/2021
Código do texto: T3964655
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