A vida
Apenas uma fagulha, ou quem sabe uma pequena chama formando-se em um graveto é tudo o que preciso para mais uma receita, recheada com meus sentimentos. Algo que inspire, mesmo que seja incomum. Uma visita inesperada, ou uma perda arrebatadora; uma lembrança feliz, ou um trauma inflamado; um sorriso espontâneo, ou pequenas lágrimas, todas em sincronia com um ritmo mórbido. Um toque pode ser crucial para o momento e, na medida certa, posso mudar tudo. De repente, velhas parcas tomam formas onde a pouco se via um chef francês e, no lugar da receita, um croqui assinado em uma caligrafia admirável. As parcas tecem um vestido longo e meus sentimentos vão sendo costurados em cada centímetro, antes que a cena mude mais uma vez e mais uma vez e mais uma vez, até que eu perceba que assim é a vida, e que ela pode ter o formato que eu quiser, e ainda assim manter-se fiel ao contexto, por que seu rumo é ela mesma quem faz. Por vezes nos deixa decidir o que fazer, mesmo sabendo que não vai dar certo, só para mostrar que ainda há muito para conhecermos e que o tempo não é suficiente para tudo. Mas a vida, ela sim sabe o que faz e lentamente vai traçando o seu caminho, prometendo que tudo ficará bem na próxima esquina. Ela não perde o ritmo até ter certeza de que tudo deu certo. Há quem duvide de suas habilidades e não dê ouvidos aos seus conselhos, mas, se me arrisco a um palpite, diria que a vida não costuma errar em suas previsões. - Yan Rodrigues