O CASO DA ROTAM NO AGLOMERADO DA SERRA

O caso da ROTAM no aglomerado da Serra

Um retrato da solidão humana

Todos nós precisamos ter pelo menos um amigo. Todos nós precisamos ser amigos pelo menos de uma pessoa. Luiz Fernando Veríssimo disse que o amigo continua sendo amigo do amigo, independentemente do que ele faça, ou seja.

Esse fato é de notável importância, tendo em vista que, um dia, quando a vida, por algum infortúnio, nos surpreender com um grave desacerto, precisaremos de alguém para nos aconselhar, nos direcionar, nos ajudar a enfrentar as penalidades dos nossos erros, para estar conosco; alguém em quem não tenhamos medo de confiar.

O Cabo Fábio, comandante da guarnição ROTAM, no aglomerado da Serra, deparou-se com um desacerto, quase uma fatalidade; algo que fugiu ao controle dos seus planos. O que fazer nessa hora? Essa é a hora de chamar um amigo; alguém em quem possamos confiar; que continue nosso amigo independentemente do que fizemos.

Aqui se estampa, ostensivamente, e em alto relevo, o retrato da solidão humana. Quando não temos um amigo que nos ajude nas crises e reveses da vida, acabamos cometendo um erro sobre o outro; chegando à pena de morte, como aconteceu ao Cabo Fábio.

Sou Sargento reformado (aposentado), e durante os anos em que trabalhei na ROTAM, ouvi, dos que nos comandavam, vozes imperativas e frias que continuam ecoando, até hoje, aos ouvidos dos companheiros da ativa:

___Se vocês trabalharem certo, podem contar com o meu apoio!

Essa falácia é demagoga, pois, ninguém precisa de apoio quando está certo. Ninguém precisa do apoio de um amigo quando está certo. Essas vozes ecoantes, na realidade, estão dizendo:

___Se vocês errarem, vocês vão se ferrar!

Sabendo que estaria só; mesmo tendo uma ficha policial impecável, e sendo um profissional competente e de honra; o Cabo Fábio, como todo ser humano, cedendo à opressão que enlouquece até o sábio, agiu movido pela loucura.

O Fábio, homem de honra e dignidade, não suportou a desonra de ver os seus anos de trabalho sendo maculados pela injusta alcunha de bandido; e ouvir bobagens de homens tolos e odiosos como o tal Durval Ângelo; o qual, ao generalizar o seu injusto julgamento, condenou toda a Polícia. Com isso, esse político estabeleceu o critério com o qual será também julgado; uma vez que, genericamente, “político” se tornou sinônimo de corrupção e desonestidade impunes.

O Cabo Fábio, sem julgar os méritos da questão que o envolveu, enfrentou a solidão e o abandono que perseguem implacavelmente o carente, errante e decadente ser humano. Até Jesus foi abandonado e negado por seus discípulos e amigos, na mais cruel hora de sua vida.

Por isso, é preciso ter um amigo, pelo menos; por isso é preciso ser amigo, de pelo menos um.

Naassom G Paula

Editor chefe da Malako Dikaia Publicações