Manhas e Manias
Mariana tinha de tudo em seu quarto: da TV de LCD até as cortinas esvoaçantes. Tudo muito mimoso, simples e bem cuidado. Ela era do tipo que não sabia o que significava a falta de alguma coisa. Seus pais, mesmo com todas as dificuldades financeiras, procuravam mantê-la em um mundo especial, sem problemas e sem necessidade.
Havia meses em que as coisas na casa de Mariana não andavam bem, mas ela nem percebia, pois vivia dentro do seu mundinho, cercada de mimos e carinhos.
Essa garotinha, desde que nasceu, sempre brincou dentro do apartamento. A mãe nem descia para o playground porque sempre estava envolvida com as coisas da casa. Além disso, acreditava que, no quarto, a menina estava bem, segura e feliz.
Tinha dias que a menininha nem percebia o dia passar, pois mantinha a atenção na televisão, em jogos da internet, em atividades com seus diversos brinquedos eletrônicos. Vivia sozinha, sem amigos, apenas cercada de tudo o que queria.
Certo dia Mariana ficou entediada no seu mundo-quarto e resolveu espiar o que havia além daqueles vidros e da tela que protegia a abertura da janela. Parecia que lá fora tudo era agitado demais. Havia carros, pessoas e muito barulho. Porém, algo despertou o interesse de Mariana. Em um poste, escondido no emaranhado de fios, um pássaro pardo fazia seu ninho. Em voos contínuos, saía e voltava com um galhinho no bico. Fez isso diversas vezes, incansáveis vezes!
Os olhinhos de Mariana acompanharam por horas o comportamento do pássaro que demonstrava alegria, pois havia momentos que cantava e se misturava aos sons do movimento da rua. Mariana desejou fortemente possuir o que via diante de seus olhos de cobiça. Achava que podia ter para si aquele canto.
À noite, quando o pai de Mariana chegou do trabalho, só viu a filha sair do quarto em disparada e pedindo um passarinho. E agora? Como convencer a menina de que naquele apartamento um pássaro não seria o bichinho ideal? Bastou ouvir o primeiro não e Mariana tirou lá do fundo o choro mais forte que tinha nos pulmões. Os pais, que não negavam nada à garota, resolveram trazer, no outro dia, uma gaiola com um pássaro comprado em um Pet Shop.
A rotina foi alterada. Agora, Mariana tinha para si um pássaro. Não era o mesmo que fizera um ninho no poste da rua. Era um canário que tinha seu canto choroso todas as vezes que via a luz do sol. A menina passou a olhá-lo durante muito tempo. Conversava com o bichinho como se ele fosse uma amiguinha da mesma idade. Partilhava com o passarinho seus brinquedos e brincadeiras. Ficava extremamente feliz quando o ouvia cantarolar.
Isso não durou muito tempo, pois a menina mimada logo se aborrecia das coisas que tinha e, numa tarde qualquer, abriu a gaiola para que o pássaro saísse pelo ar. Não pensem que foi por bondade o ato de libertar o pássaro. A menina, no dia seguinte, já queria outra coisa que pudesse prender por alguns dias sua atenção.