Dia de finados
Dia de finados
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza
Multidões a se perderem de vista visitarão, nesse dia, os cemitérios, ao mesmo tempo em que os sentimentos serão variáveis, desde a piedade profunda até a mais irrefletida e leviana futilidade. A maior parte das pessoas, infelizmente, cuidará do passado, de como eram seus extintos, da afeição perdida e das separações que deixaram marcas indeléveis.
A igreja católica, com esta comemoração, visa, antes de tudo, lembrar a situação presente dos que já partiram. Ainda, recentemente, um documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (SCDF), reafirmou clara e energicamente os ensinamentos sobre os chamados “novíssimos”. Vejamos um pequeno trecho desse diploma encíclico:
“Em adesão fiel ao Novo Testamento e à tradição, acredita a Igreja na felicidade dos justos que “estarão um dia com Cristo”. Ao mesmo tempo, ela crê numa pena que há de castigar para sempre o pecador que for privado da visão de Deus, ainda na repercussão dessa pena em todo o “ser” do mesmo pecador. E, por fim, acredita existir para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de Deus, a qual é, no entanto, absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto o que a Igreja entende quando fala do Inferno e do Purgatório”. (Carta Circular Papal Roma 1995)”.
Em paralelo, vamos tentar definir, em rápidas pinceladas, o que venha ser Inferno e Purgatório. Inferno é para onde seguirão todas as almas depois que acabar a vida terrena. É o chamado suplício eterno ou castigo sem fim, notadamente para aqueles (homens e mulheres) que cometeram transgressões imperdoáveis.
Já o Purgatório seria um ‘meio inferno’, ou seja, um espaço próprio para a santificação dos virtuosos que não foram acometidos pelo ‘Pecado Maior’. Desse patamar, as almas retas partirão em direção a um estágio superior, onde deverão ser admitidas na bem-aventurança do Altíssimo. Inúmeras são as passagens sobre a morte, citadas nas Escrituras: Pv. 14.32 (Pela malícia será lançado fora o ímpio, mas o justo até NA SUA MORTE tem esperança). Ec. 3.2 (Há tempo de nascer, e tempo DE MORRER).
Ao passar para a eternidade, encontra-se o falecido, sejam quais forem suas idéias e crenças, em uma destas três situações: a) reprovado definitiva e irremediavelmente afastado de Deus ou da visão D’Ele; b) na Boa Sorte perfeita ou; c) num estado de purificação dos pecados. No primeiro caso, não poderemos fazer nada pela criatura, pois está definitivamente nas garras de Lúcifer, a lhe ferir com as lâminas pontiagudas do tridente letal. No segundo, o “de cujus” não necessita do nosso auxilio em hipóteses nenhuma. Está com o Senhor vivendo em mansões celestiais. No terceiro, exige e espera por nossa ajuda, por nossa misericórdia. É o purgatório. Para se tirar alguém dai, teremos que contar com o sufrágio das orações por meio das quais concorreremos para apressar a entrada deste sofredor no que se denomina de ‘CÉU’. Todavia, se aquele por quem oramos já estiver junto do Criador, nossas preces aproveitarão a outros, nunca desperdiçadas.
Por essa razão, e outras mais que deixamos de mencionar aqui, o dia 2 de novembro é dedicado, especialmente, aos queridos e amados que já não se acham mais por aqui em meio ao nosso convívio familiar. Aproveitemos o espaço para pensarmos, igualmente, em nós, que estamos VIVOS e em gozo da saúde perfeita. Mesmo assim, é bom ficarmos prevenidos, de sobreaviso, um olho na missa outro no padre, até porque, talvez, não ande muito longe o momento de nos defrontarmos com os que já enterramos.
Amanhã, quem sabe depois, ou a qualquer momento, é provável que estejamos do lado de lá, esperando, ansiosamente, pelo socorro dos amigos e parentes, bem como dos cristãos devotados que, por aqui, fatalmente deixaremos a derramar um mar de lágrimas por nós.
Em face do pequeno exposto, é bom, desde agora, permanecermos em paz com todos, e, sobretudo, com Deus.
(*) Aparecido Raimundo de Souza, 59 anos é jornalista.