O APOCALIPSE MAIA
Tucídedes, o famoso historiador grego que viveu a destruição do seu país na Guerra do Peloponeso e Tomas Man, o grande romancista alemão que assistiu ao apocalipse nazista, se estivessem vivos, teriam muito o que dizer sobre esse assunto. Eles viveram o antes e o depois.
O ano está acabando e o apocalipse maia, previsto para este ano ainda não aconteceu e nada indica que venha a acontecer. Aliás, o mais provável é que no dia 31 de dezembro, quando as doze badaladas do sino da catedral mais próxima anunciar a passagem do ano, a maioria de nós esteja já todos bêbados ou próximos disso, esperando o céu se iluminar com os fogos tradicionais de todos os anos.
O que fazer? Nós somos assim. A humanidade nunca foi mesmo grande coisa. Se quiséssemos acreditar nos nossos sagrados cronistas, diríamos que ela é como o templo de Jesusalém: já foi construída, destruída e reconstruída um montão de vezes. Ou então como Frisco, como os alegres cidadãos de cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, gostam de chamá-la, que a cada década um terremoto destrói e cada vez que é destruída, é reconstruída maior e mais alegre.
Vinte de dezembro é o dia. Por azar, ou sorte, sei lá, é o dia do meu aniversário. Vou ficar olhando da minha janela, no décimo andar do meu prédio, e ver a cidade se derretendo como uma fatia de queijo numa chapa quente. As colinas da serra do Itapeti vão rachar todas e sumir numa espiral de fogo e pó, como se chupadas por um imenso buraco negro. O sol vai se apagar em pleno dia e o mar vai ser sugado em um único instante por um bueiro aberto no meio do nada.
E depois sei lá o que vai ser e não me importa nem um pouco, pois seja o que for não será melhor que isto. Deus não deve ser um Criador muito competente porque nunca conseguiu aperfeiçoar a espécie do jeito que Ele sonhava que devia ser. A se acreditar nos cronistas bíblicos, a espécie humana não evoluiu, mas sim, involuiu. Ela nasceu perfeita, toda bonitinha, uma espécie de casal Brad Pitt/ Angelina Jollie, mas depois se tornou um tipo de antropopiteco que mal se distinguia de um orangotango. E depois teve que iniciar uma longa jornada antropológica para voltar ao que era.
E Deus teve que destruir a sua criação uma pá de vezes e recomeçar tudo de novo um mesmo tanto de vezes. Há quem diga que a raça adâmica (a nascida de Adão e Eva) não foi a primeira tentativa de Deus. Antes dela Ele já tentara três vezes, e não tivera bom resultado. Nós somos a quarta tentativa. Assim, as chamadas eras geológicas da terra (nós estamos no quaternário) na verdade são quatro tentativas de Deus de criar uma espécie perfeita.
Mas nem essa raça adâmica deu certo até agora. Por isso Deus mandou aquele dilúvio há dez mil anos atrás para liquidar com os atlantes e os outros povos que existiam naqueles áureos tempos em que os homens chegavam a ter três metros de altura. Mas também não funcionou porque as raças que surgiram depois disso, fundadas nos três filhos de Noé, Sem, Cam e Jafet, continuaram tão tortas quanto seus iníquos antecessores afogados no dilúvio.
Daí Deus desistiu da humanidade como um todo e resolveu trabalhar só com um grupo. Pensou que talvez fosse mais fácil. Mas não foi não. Ele teve que destruir e reconstruir o grupo um monte de vezes. Mandou-os para Canaã, para o Egito, para a Palestina, para a Assíria, para a Babilônia, como a gente faz com os filhos da gente hoje em dia colocando-os para estudar num monte de países, mas de nada adiantou. Até que chegou uma hora em que Ele desistiu dessa idéia e mandou o próprio filho trocar a vida dele na terra por uma oportunidade para a humanidade se reconstruir nos termos em que ele queria.
Deu certo? Que nada. Ficou tudo igual, senão pior.
Daí porque eu penso que esse negócio de Apocalipse nunca passou pela cabeça de Deus. Na verdade é mania do homem nunca estar contente com o que tem e de repente resolve botar fogo em tudo e começa a fazer de novo. E como ele faz isso constantemente com o mundo dele, não se cansa de imaginar que isso deve acontecer com o todo o resto. E todo aquele que não está contente com o mundo em que vive não acha ruim a idéia de acabar com ele e ficar imaginando que depois disso possa vir coisa melhor. Fico pensando naquele velhote confinado na Ilha de Patmos, sentado sobre uma pedra, pensando nessas coisas e escrevendo o Apocalipse da Bíblia. Ele deve ter se divertido bastante pensando no trabalho que nós íamos ter para tentar entender o que ele escreveu. Os filósofos e os líderes religiosos do mundo inteiro ainda se preocupam com isso, mas a molecada que brinca com os joguinhos modernos na TV mataria tudo na mesma hora.
Ah! Como nos somos incoerentes em nossas engenharias mentais. Primeiro imaginamos um Deus perfeito, eterno, onipotente e piedoso. Depois fazemos dele um ser incoerente, confuso, mau e incompetente até para endireitar uma banana que nasceu torta e teima em se manter torta.
Mas quem sabe se a excelência da banana esteja justamente no fato de ela ser torta? Se o Apocalipse acontecer mesmo vou imaginar que é um presente de aniversário que os meus amigos estão me dando. Afinal, todo ano eles fazem iso. Me aprontam cada surpresa! No ano passado fizeram com que a minha filha que mora na Austrália chegasse exatamente no dia em que estava fazendo aniversário. Só não a fizeram vestir-se de canguru porque não acharam fantasia apropriada.
Este ano vou me divertir vendo a cidade derreter como uma fatia de queijo numa chapa quente e a Serra do Itapeti se esfarelar toda se fosse um pão velho esmagado por mão poderosa. Tudo isso sentado na minha varandinha, tomando uma cervejinha. Viva os maias, sábio povo que sacrificava seus jovens mais fortes e os mandava como mensageiros aos deuses para pedir a eles o que a natureza sempre nos deu de graça.
Tucídedes, o famoso historiador grego que viveu a destruição do seu país na Guerra do Peloponeso e Tomas Man, o grande romancista alemão que assistiu ao apocalipse nazista, se estivessem vivos, teriam muito o que dizer sobre esse assunto. Eles viveram o antes e o depois.
O ano está acabando e o apocalipse maia, previsto para este ano ainda não aconteceu e nada indica que venha a acontecer. Aliás, o mais provável é que no dia 31 de dezembro, quando as doze badaladas do sino da catedral mais próxima anunciar a passagem do ano, a maioria de nós esteja já todos bêbados ou próximos disso, esperando o céu se iluminar com os fogos tradicionais de todos os anos.
O que fazer? Nós somos assim. A humanidade nunca foi mesmo grande coisa. Se quiséssemos acreditar nos nossos sagrados cronistas, diríamos que ela é como o templo de Jesusalém: já foi construída, destruída e reconstruída um montão de vezes. Ou então como Frisco, como os alegres cidadãos de cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, gostam de chamá-la, que a cada década um terremoto destrói e cada vez que é destruída, é reconstruída maior e mais alegre.
Vinte de dezembro é o dia. Por azar, ou sorte, sei lá, é o dia do meu aniversário. Vou ficar olhando da minha janela, no décimo andar do meu prédio, e ver a cidade se derretendo como uma fatia de queijo numa chapa quente. As colinas da serra do Itapeti vão rachar todas e sumir numa espiral de fogo e pó, como se chupadas por um imenso buraco negro. O sol vai se apagar em pleno dia e o mar vai ser sugado em um único instante por um bueiro aberto no meio do nada.
E depois sei lá o que vai ser e não me importa nem um pouco, pois seja o que for não será melhor que isto. Deus não deve ser um Criador muito competente porque nunca conseguiu aperfeiçoar a espécie do jeito que Ele sonhava que devia ser. A se acreditar nos cronistas bíblicos, a espécie humana não evoluiu, mas sim, involuiu. Ela nasceu perfeita, toda bonitinha, uma espécie de casal Brad Pitt/ Angelina Jollie, mas depois se tornou um tipo de antropopiteco que mal se distinguia de um orangotango. E depois teve que iniciar uma longa jornada antropológica para voltar ao que era.
E Deus teve que destruir a sua criação uma pá de vezes e recomeçar tudo de novo um mesmo tanto de vezes. Há quem diga que a raça adâmica (a nascida de Adão e Eva) não foi a primeira tentativa de Deus. Antes dela Ele já tentara três vezes, e não tivera bom resultado. Nós somos a quarta tentativa. Assim, as chamadas eras geológicas da terra (nós estamos no quaternário) na verdade são quatro tentativas de Deus de criar uma espécie perfeita.
Mas nem essa raça adâmica deu certo até agora. Por isso Deus mandou aquele dilúvio há dez mil anos atrás para liquidar com os atlantes e os outros povos que existiam naqueles áureos tempos em que os homens chegavam a ter três metros de altura. Mas também não funcionou porque as raças que surgiram depois disso, fundadas nos três filhos de Noé, Sem, Cam e Jafet, continuaram tão tortas quanto seus iníquos antecessores afogados no dilúvio.
Daí Deus desistiu da humanidade como um todo e resolveu trabalhar só com um grupo. Pensou que talvez fosse mais fácil. Mas não foi não. Ele teve que destruir e reconstruir o grupo um monte de vezes. Mandou-os para Canaã, para o Egito, para a Palestina, para a Assíria, para a Babilônia, como a gente faz com os filhos da gente hoje em dia colocando-os para estudar num monte de países, mas de nada adiantou. Até que chegou uma hora em que Ele desistiu dessa idéia e mandou o próprio filho trocar a vida dele na terra por uma oportunidade para a humanidade se reconstruir nos termos em que ele queria.
Deu certo? Que nada. Ficou tudo igual, senão pior.
Daí porque eu penso que esse negócio de Apocalipse nunca passou pela cabeça de Deus. Na verdade é mania do homem nunca estar contente com o que tem e de repente resolve botar fogo em tudo e começa a fazer de novo. E como ele faz isso constantemente com o mundo dele, não se cansa de imaginar que isso deve acontecer com o todo o resto. E todo aquele que não está contente com o mundo em que vive não acha ruim a idéia de acabar com ele e ficar imaginando que depois disso possa vir coisa melhor. Fico pensando naquele velhote confinado na Ilha de Patmos, sentado sobre uma pedra, pensando nessas coisas e escrevendo o Apocalipse da Bíblia. Ele deve ter se divertido bastante pensando no trabalho que nós íamos ter para tentar entender o que ele escreveu. Os filósofos e os líderes religiosos do mundo inteiro ainda se preocupam com isso, mas a molecada que brinca com os joguinhos modernos na TV mataria tudo na mesma hora.
Ah! Como nos somos incoerentes em nossas engenharias mentais. Primeiro imaginamos um Deus perfeito, eterno, onipotente e piedoso. Depois fazemos dele um ser incoerente, confuso, mau e incompetente até para endireitar uma banana que nasceu torta e teima em se manter torta.
Mas quem sabe se a excelência da banana esteja justamente no fato de ela ser torta? Se o Apocalipse acontecer mesmo vou imaginar que é um presente de aniversário que os meus amigos estão me dando. Afinal, todo ano eles fazem iso. Me aprontam cada surpresa! No ano passado fizeram com que a minha filha que mora na Austrália chegasse exatamente no dia em que estava fazendo aniversário. Só não a fizeram vestir-se de canguru porque não acharam fantasia apropriada.
Este ano vou me divertir vendo a cidade derreter como uma fatia de queijo numa chapa quente e a Serra do Itapeti se esfarelar toda se fosse um pão velho esmagado por mão poderosa. Tudo isso sentado na minha varandinha, tomando uma cervejinha. Viva os maias, sábio povo que sacrificava seus jovens mais fortes e os mandava como mensageiros aos deuses para pedir a eles o que a natureza sempre nos deu de graça.