FINADOS - DIA DE LEMBRAR?

Acho que não tenho muito que dizer sobre o dia de finados.

Uma data triste que em alguns casos deveria ser esquecida. É lembrada por muitos com amargura. Traz um misto de saudade e dor daquele ente querido que se foi.

2012 foi um ano doloroso para mim. Um ano difícil, de perdas difíceis. Em apenas um ano perdi um grande amigo, minha avó, meu cachorro que morreu aos 14 anos, e minha vizinha.

Curioso. Recordo-me bem do último dia em que estive com minha avó.

Era um domingo. Meus pais tinham vindo do interior para uma visita e fizemos um churrasco. Lá estava ela: comendo carne e jogando os ossos para os cachorros...

-Vó... Não faz isso! - bradava meu irmão.

-Não estou fazendo nada... - reclamava.

85 anos. Que saúde! A idade chegou para ela como chega para todos... Sua memória falhava de vez em quando, mas ela insistia em manter aquele amor incondicional pelos netos, pelos filhos... Pelas pessoas que a cercavam.

Aquele domingo foi memorável. Há quanto tempo não reuníamos toda família assim. Engraçado, aquele seria o último e mais belo momento que tivemos antes dela partir.

Cheguei em casa na segunda-feira quando meu irmão noticiou:

-Deivid, a vó está internada. Seu diabetes subiu muito, e nem os médicos conseguem precisar o que foi.

Aquilo me abalou, me desequilibrou. Logo pensei: Minha vó é forte, sairá dessa.

Uma semana se passou. Eu ia visita-la sempre que podia. Nem sempre conseguia entrar, pois na UTI o horário era restrito.

Lembro-me da primeira vez que a vi lá dentro. Pálida, magra e entubada. Em meu silêncio, chorei, pois a vendo naquele estado, sabia que ela não resistiria.

E foi o que aconteceu. Ligaram-nos a meia noite da sexta-feira. Ela tinha falecido.

No cemitério vi parentes que há muito não via. Uns inclusive não tinha mais contato. É engraçado como a morte reúne as pessoas. É ela quem lembra os esquecidos, é ela quem nos faz enxergar o amor, há muito abandonado e empoeirado num canto em nosso coração.

Carregávamos o caixão de minha avó até sua cova, quando uma lápide chamou minha atenção.

**Luiz Fernandes ** 19/04/1922 ---- 30/06/2006.

Finalmente minha avó encontraria seu marido. Meu vô partira tempos antes, e agora eles estariam juntos de novo.

O túmulo de minha vó está lá, ao lado de meu vô. Eles descansam agora, e prefiro lembrar-me deles assim.

Um cemitério representa dor. Representa o lugar de descanso, mas traz com ele a presença da morte. E a morte é triste, fria e não liga para o sentimento dos outros. Ela simplesmente vem e leva aquela pessoa embora.

Após enterrarmos minha avó, chegou à notícia de que minha vizinha havia falecido. Não deu tempo de secar as lágrimas. Ainda tinham mais para ser vertidas.

Claro, teve meu cachorro que também se foi. Morreu nos pés da porta de meus pais, feliz e em paz. A marca de minha infância partiu. Meu melhor amigo se foi... e agora sei que descansa com Deus ao lado dele. Lembro-me das noites tristes, em que eu chorava e ele abanava a cauda tentando me animar. Lembro-me das pescarias ao seu lado, das brigas que separei... Uma vez tive de joga-lo na água junto com outro cachorro, pois eles não se desgrudavam!

Com certeza, um grande companheiro que se foi. Ele partiu e foi triste, mas eu nunca tive um animal que viveu tão feliz, e que amou tanto aos seus donos.

Ele corria pela casa, pulava muros pequenos, e as portas de sua morte, corria atrás de patos e galinhas no sítio de meus pais. Ele morreu feliz.

Por fim, meu amigo Rodrigo. Ele cortava meu cabelo desde que nasci. Tinha o salão há 30 anos e sempre usava os mesmos produtos. Porém, um lote veio com mais formol que o recomendado. Falha do fabricante? Não sei...

Ele lutou. Ele brigou com a morte, mas não venceu. Após 04 paradas cardíacas, ele finalmente cedeu.

Este foi um ano triste para mim. No dia de finados, pretendo me lembrar daqueles que amo dentro de minha casa, olhando um álbum de fotos, vendo vídeos antigos... me sentir saudoso e feliz por aqueles que se foram e que marcaram tanto minha vida. Chorar sozinho, esboçar um sorriso de felicidade e enxerga-los através das lembranças.

Sim, já fui a cemitérios no dia de finados e posso dizer que a dor é contagiosa. Pessoas chorando, pessoas sofrendo por aqueles que se foram e deixaram para esta vida o desejo de que os que ficaram fossem felizes.

Não só hoje, mas sempre recordarei com felicidade daqueles que se foram, sabendo que estão em um lugar melhor. Sabendo que eles me amam e estão felizes, e sabendo que as lágrimas que choro são de saudades e recordações dos bons momentos vividos. O tempo do pranto de dor e desespero passou. Sei que eles não querem ser lembrados pela tristeza, e sim pela felicidade que deixaram ao passar em minha vida.

Finados é apenas um dia normal quando aqueles que se vão tem lugar perpétuo dentro de nossos corações.

Bonilha
Enviado por Bonilha em 01/11/2012
Reeditado em 01/11/2012
Código do texto: T3963236
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