O NOME DOS FILHOS.
Por Carlos Sena
Como será a vida de Terpandra? Ou de Targélia? Acho que devo fazer estas perguntas a doutora Josefa Odília. Talvez ao Dr. Margarido ou mesmo a Dona Primavera. Infelizmente não conheci Targélia nem Terpandra, tampouco Josefa Odília. Conheci Margarido e conheci Primavera – um era médico famoso no Recife (acho que ainda está na ativa) e Primavera a dona do cartório da minha terra e também a mãe de João, um colega de escola. Dr. Margarido é conhecido por outro nome, mas seu primeiro é Margarido mesmo. Quando eu trabalhava nas contas médicas do antigo INAMPS, ele ia me entregar suas contas. Inadvertidamente eu o tratava por Margarido, até que um colega me alertou que ele não gostava de ser chamado assim, mas pelo sobrenome. O diabo é que eu não percebia sua rejeição ao próprio nome. Afinal, aquele era seu nome de batismo e eu estava certo utilizando seu próprio nome. De fato, numa sociedade machista, fica confuso chamar um homem de MARGARIDO, pois o normal é Margarida - uma flor muito bonita e apreciada e que se usa muito para nominar mulheres. Depois eu soube que, de fato, no mundo da medicina lhe chamavam pelo sobrenome, não pelo nome Margarido. Por outro, quando a gente não conhece alguém na intimidade tem que tratar pelo nome formal, mesmo porque poderia acontecer da pessoa se acostumar com o nome idiossincrático e gostar dele. Poderia, inclusive, acontecer o contrário: eu deixar de chama-lo de Margarido e ele me repreender dizendo que Margarido era o seu nome. Como se vê o que dá pra rir continua dando pra chorar. Saí das contas médicas, mas até hoje quando lhe encontro chamo pelo nome de Margarido e ele, sempre gentil nunca fez cara feia.
A história de Primavera é muito cheia de setembros, flores e belezas mil. Conta-se, na minha terra, que o pai de Primavera gostava de nomes exóticos. A irmã de Primavera se chamava ESPERANÇA e seu irmão FLORISBELO Vila Nova. Mas o nome de PRIMAVERA teria sido um plano “B”, pois seu pai a queria chamar de “Setembrina”. Corre a boca miúda que alguém da família teria dito ao seu pai que Setembrina não ficava bem. Ele, prontamente, teria aceito a sugestão, mas no lugar de SETEMBRINA botou PRIMAVERA e assim ficou. Na verdade setembrina e primavera a rigor, são flores, haja vista Florisbelo e ainda por cima Vila e Nova. Não poderia ser Vila Velha? Não. Parece mesmo que todo mundo que tem no nome Vila, tem o complemento de Nova. Algo como todo Paulo que sempre é Roberto e todo Carlos que quase sempre é Alberto; como toda Maria é José e todo José é Maria, sem a malícia do gênero que alterna ora José, ora Maria.
Quanto a Targélia e Terpandra são irmãs. Tive notícia delas via um amigo que trabalha com um sobrinho das duas. Infelizmente não pude conversar com elas pra saber da proeza do nome. Nome? Falei isso? Talvez se confunda com nome de remédio, mas isso é detalhe sem importância diante das irmãs super gente fina que dizem ser. Por outro lado a médica Josefa Odília foi colega de turma no curso de medicina de um amigo-irmão lá das terras de Papacaça. Essa, coitada, sofria. Os colegas arriavam com ela dizendo “Zefodilha”, ou seja, trocando Josefa por Zefa e juntando com Odília que era a outra parte do seu nome. Essa cacofonia maliciosa lhe incomadava por demais. Por isso ela confidenciava aos mais chegados que, tão logo ganhasse dinheiro iria trocar o nome. De fato, Zefodilha é pra se arrombar! Pior: afora o arriamento dos colegas, ficava sem sentido ser chamada de Zefodilha por um paciente. Fato é que ela detestava o nome, com razão. Eu também fazia o mesmo, certamente.
Retornando aos nomes de Primavera, Florisbelo, Esperança, lembro o de Dona Florinda, do Chaves. Será que são parentes? Bom humor a parte, nome de gente tem que ser levado mais a sério. Hoje a moda é uma novela. Sempre que uma novela de audiência da Globo termina, logo vem uma ruma de crianças que os pais batizam com os nomes das novelas da moda. Assim, como se já não bastasse a baboseira das nossas novelas, ainda vem muita gente colocando nome dos filhos imitando os personagens. Quando coincide com um personagem do bem, menos mal, mas nem sempre isso acontece. Pra completar, um colega de trabalho colocou esses nomes nos seus dois filhos - verdadeiras pérolas de criatividade: num deles ele botou John Kennedy, mas no outro, finalmente, ele acertou em cheio: José Kennedy a quem só chamavam Zé Kennedy. Mais um: um antigo motorista do serviço público com quem tive oportunidade de trabalhar se chamava ROSIVALDO, mas não se sabe como, ele é conhecido por Belém. Chamá-lo de Rose é briga na certa. Menos mal. Durmam com um barulho desses, mas acordem pra vida e para o entendimento de que nome de gente tem que ser simples como João, Paulo, José, Maria, Joaquim, etc. Mas, pensam que acabou? Não! O pior nome é aquele que os pais juntam seus nomes e aglutinam num terceiro que, geralmente, parece um nome de remédio ou de um país do terceiro mundo. Rosivânia é um desses: o pai se chama Rosinaldo e a Mãe, Vânia. Menos mal, porque há coisa pior no mercado das identidades nominais.
Por Carlos Sena
Como será a vida de Terpandra? Ou de Targélia? Acho que devo fazer estas perguntas a doutora Josefa Odília. Talvez ao Dr. Margarido ou mesmo a Dona Primavera. Infelizmente não conheci Targélia nem Terpandra, tampouco Josefa Odília. Conheci Margarido e conheci Primavera – um era médico famoso no Recife (acho que ainda está na ativa) e Primavera a dona do cartório da minha terra e também a mãe de João, um colega de escola. Dr. Margarido é conhecido por outro nome, mas seu primeiro é Margarido mesmo. Quando eu trabalhava nas contas médicas do antigo INAMPS, ele ia me entregar suas contas. Inadvertidamente eu o tratava por Margarido, até que um colega me alertou que ele não gostava de ser chamado assim, mas pelo sobrenome. O diabo é que eu não percebia sua rejeição ao próprio nome. Afinal, aquele era seu nome de batismo e eu estava certo utilizando seu próprio nome. De fato, numa sociedade machista, fica confuso chamar um homem de MARGARIDO, pois o normal é Margarida - uma flor muito bonita e apreciada e que se usa muito para nominar mulheres. Depois eu soube que, de fato, no mundo da medicina lhe chamavam pelo sobrenome, não pelo nome Margarido. Por outro, quando a gente não conhece alguém na intimidade tem que tratar pelo nome formal, mesmo porque poderia acontecer da pessoa se acostumar com o nome idiossincrático e gostar dele. Poderia, inclusive, acontecer o contrário: eu deixar de chama-lo de Margarido e ele me repreender dizendo que Margarido era o seu nome. Como se vê o que dá pra rir continua dando pra chorar. Saí das contas médicas, mas até hoje quando lhe encontro chamo pelo nome de Margarido e ele, sempre gentil nunca fez cara feia.
A história de Primavera é muito cheia de setembros, flores e belezas mil. Conta-se, na minha terra, que o pai de Primavera gostava de nomes exóticos. A irmã de Primavera se chamava ESPERANÇA e seu irmão FLORISBELO Vila Nova. Mas o nome de PRIMAVERA teria sido um plano “B”, pois seu pai a queria chamar de “Setembrina”. Corre a boca miúda que alguém da família teria dito ao seu pai que Setembrina não ficava bem. Ele, prontamente, teria aceito a sugestão, mas no lugar de SETEMBRINA botou PRIMAVERA e assim ficou. Na verdade setembrina e primavera a rigor, são flores, haja vista Florisbelo e ainda por cima Vila e Nova. Não poderia ser Vila Velha? Não. Parece mesmo que todo mundo que tem no nome Vila, tem o complemento de Nova. Algo como todo Paulo que sempre é Roberto e todo Carlos que quase sempre é Alberto; como toda Maria é José e todo José é Maria, sem a malícia do gênero que alterna ora José, ora Maria.
Quanto a Targélia e Terpandra são irmãs. Tive notícia delas via um amigo que trabalha com um sobrinho das duas. Infelizmente não pude conversar com elas pra saber da proeza do nome. Nome? Falei isso? Talvez se confunda com nome de remédio, mas isso é detalhe sem importância diante das irmãs super gente fina que dizem ser. Por outro lado a médica Josefa Odília foi colega de turma no curso de medicina de um amigo-irmão lá das terras de Papacaça. Essa, coitada, sofria. Os colegas arriavam com ela dizendo “Zefodilha”, ou seja, trocando Josefa por Zefa e juntando com Odília que era a outra parte do seu nome. Essa cacofonia maliciosa lhe incomadava por demais. Por isso ela confidenciava aos mais chegados que, tão logo ganhasse dinheiro iria trocar o nome. De fato, Zefodilha é pra se arrombar! Pior: afora o arriamento dos colegas, ficava sem sentido ser chamada de Zefodilha por um paciente. Fato é que ela detestava o nome, com razão. Eu também fazia o mesmo, certamente.
Retornando aos nomes de Primavera, Florisbelo, Esperança, lembro o de Dona Florinda, do Chaves. Será que são parentes? Bom humor a parte, nome de gente tem que ser levado mais a sério. Hoje a moda é uma novela. Sempre que uma novela de audiência da Globo termina, logo vem uma ruma de crianças que os pais batizam com os nomes das novelas da moda. Assim, como se já não bastasse a baboseira das nossas novelas, ainda vem muita gente colocando nome dos filhos imitando os personagens. Quando coincide com um personagem do bem, menos mal, mas nem sempre isso acontece. Pra completar, um colega de trabalho colocou esses nomes nos seus dois filhos - verdadeiras pérolas de criatividade: num deles ele botou John Kennedy, mas no outro, finalmente, ele acertou em cheio: José Kennedy a quem só chamavam Zé Kennedy. Mais um: um antigo motorista do serviço público com quem tive oportunidade de trabalhar se chamava ROSIVALDO, mas não se sabe como, ele é conhecido por Belém. Chamá-lo de Rose é briga na certa. Menos mal. Durmam com um barulho desses, mas acordem pra vida e para o entendimento de que nome de gente tem que ser simples como João, Paulo, José, Maria, Joaquim, etc. Mas, pensam que acabou? Não! O pior nome é aquele que os pais juntam seus nomes e aglutinam num terceiro que, geralmente, parece um nome de remédio ou de um país do terceiro mundo. Rosivânia é um desses: o pai se chama Rosinaldo e a Mãe, Vânia. Menos mal, porque há coisa pior no mercado das identidades nominais.