O PERDÃO NÃO VEM DE DEUS
“ Portanto, se estás para fazer tua oferta diante do altar, e lembrares aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá tua oferta diante do altar e vai reconciliar-te com teu irmão, e depois vai fazer a tua oferta.” Mateus, 5;23
Mateus5;23.
Não é a Deus que devemos pedir perdão,Pois se erramos, não é Ele o prejudicado.
Porém o mal que fazemos ao nosso irmão,
Só por ele mesmo poderá ser perdoado.
É verdade que sempre existiram as igrejas,
Que mais se parecem com supermercados.
Elas querem vender perdão em bandejas,
Como se fossem produto industrializado.
Mas é só o indivíduo que sofreu a ofensa,
Que pode reivindicar devida competência,
Para prolatar contra o ofensor a sentença.
E Jesus diz: “quem quiser fugir do castigo,
Que por si próprio resolva sua pendência,
Pois não se deve deixar atrás de si inimigo”
"O Tesouro dos Sábios"- pg 131
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O saudoso jogador de futebol Garrincha, além de ser um extraordinário jogador era também um sujeito folclórico. Dizem que tinha o espírito de uma criança que morreu sem jamais ter se tornado adulto. Uma dos mais conhecidos “causos” que se conta sobre ele ocorreu quando Vicente Feola, o técnico da seleção brasileira durante a Copa do Mundo da Suécia, em 1958, estava dando as instruções para o jogo contra os russos. “ Quando nós tivermos atacando, os russos vão fazer uma linha de quatro defensores na frente da área. Então o Didi deve passar a bola para o Garrincha e ele dribla o lateral e cruza na marca do pênalti para o Vavá, entenderam? Alguma pergunta? ” Parece que todo mundo entendeu, pois balançaram a cabeça em sinal de aprovação, menos o Garrincha, que levantou a mão.
“ Fala, Garrincha”, disse o técnico.
“Eu entendi, professor. Mas isso já foi combinado com os russos?”
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Essa anedota me veio a propósito de um sujeito que outro dia me confessou os erros que havia cometido com sua filha, de forma que ela foi embora de casa e nunca mais falou com ele. Católico confesso, ele é um sujeito que não perde missa e vive se confessando todo dia, e pagando a penas que seu confessor lhe dá.
“Peço todo dia para Deus me perdoar pela besteira que eu fiz”, disse ele.
“E para sua filha” perguntei. “ Você algum dia pediu perdão a ela pelo mal que lhe fez?”
Nunca esquecerei a cara com que ele me olhou.
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Acho que foi Leibnitz, o famoso filósofo das “mônadas” que disse que o homem era tão incoerente que inventou um Deus perfeito, imortal, todo-poderoso, e ainda assim acha que pode aborrecê-lo com suas travessuras e trapalhadas. Faz suas besteiras e corre para pedir perdão, como se Deus fosse um cara cheio de sentimentos humanos, que faz “beiçinho” e se magoa quando alguém deixa de fazer algo que contraria a sua suposta vontade (que por sinal ninguém nunca soube qual é.) Talvez tenha sido por isso que Jesus ensinou: “ acomoda-te com teu adversário enquanto ainda estás a caminho do tribunal, para que não suceda que ele te entregue ao juiz, o juiz ao ministro e este te ponha na prisão. Na verdade te digo que não sairás de lá antes de pagares o último quadrante.”
Mas Jesus era um rebelde que pagou com a vida pela quebra dos paradigmas da sua época. Assim todo mundo continua pedindo perdão para Deus e poucos têm a coragem de seguir o conselho de Jesus e procurar o ofendido para obter dele a devida desculpa.
Talvez porque o perdão de Deus seja mais fácil de obter. Já houve tempo em que ele até era vendido por bom preço. Quem tinha grana comprava um lugar no céu com a maior facilidade. Até Giles de Rais, o maior serial killer da história, foi perdoado.[1]
Agora, difícil é obter o perdão de quem foi ofendido. Nesse caso, muita reza não adianta, mas sim capacidade de negociação.
Aliás, se Deus nos perdoou, só vamos saber quando morrermos. Ou não.
[1] Sobre Giles de Rais veja-se neste site o conto “ O Senhor das Trevas”