Pena de Morte: A Ilusão de Uma Justiça!
Lendo os comentários de uma notícia no Facebook, a respeito do criminoso Donald Moeller, 60 anos, executado diante dos pais da sua vítima, Beck O´Conell, 9 anos, estuprada e assassinada a facadas, percebi o quão longe nossa sociedade se encontra de aplicar a casos assim uma verdadeira justiça.
A crueldade do crime nos revolta, sem dúvida, tal como o recentemente cometido em nossa Uruana, fazendo com que lancemos brados sanguinários de encontro ao assassino sem direito ao perdão. Todos os comentários defendiam sua execução e, alguns, iam mais longe exigindo que tal pena passe a ser aplicada nos solos, já não tão mansos, do Brasil.
Tem-se a ilusão momentânea que a pena de morte repara todo o mal praticado e que serve de severo inibidor contra marginais desse porte. No entanto, a questão é muito mais profunda, sob a ótica espiritual, e exige uma reflexão que não pode ser menosprezada.
Para todos que conhecemos os desdobramentos espirituais, e suas inevitáveis consequências, temos ciência que a morte desse criminoso não trará qualquer alívio ou benefício à família. Poderá essa segunda morte trazer a criança de volta à vida? A sociedade encontra-se satisfeita e se sente atendida? Sua mãe se sentirá mais leve, confortada e plenamente justificada? Talvez sim, por breves momentos, até que o vazio e a dor novamente a visitem e macerem sua alma.
Lava-se um crime com sangue e assim não se lava nada.
Da forma que nossa sociedade age, nesses crimes, perpetua-se a corrente de ódio e o vazio, pela perda, irá continuar. O que fazer, então, diante de criminosos cruéis? Creio que, em uma sociedade que se diga humana e civilizada, a pena de morte passa a ser um recurso desnecessário; visto que essa mesma sociedade terá encontrado veículos outros que promovam justiça, que levem ao reparo dos crimes e que apoiem as vítimas sem necessidade de se derramar sangue ao modo das antigas fileiras bárbaras.
O que ocorre é que a busca de outros meios exigiria maior esforço, mais trabalho e abnegação, além de exigir custos financeiros que nosso doentio pragmatismo não se encontra disposto a honrar. Some-se a isso o egoísmo natural diante da ilusão materialista que se traduz no falso ditado: ¨morto o animal, morto o veneno¨.
Em uma abordagem terrena, caso esse homem tivesse que pagar com trabalho uma perpétua indenização à família e à sociedade, cremos que seria mais completo e mais justo. Não se trará, de qualquer forma, a criança novamente ao convívio dos pais, mas se evitaria que uma crueldade fosse travestida de justiça para compensar uma anterior. E de ódio em ódio, e tomando olho por olho, somente se sabe que nossa sociedade terminará cega, disse Saramago.
Sabemos que, do ponto de vista espiritual, a morte não nos livra dos inimigos. Somente o amor o faz. E quão difícil é a prática desse amor integral. Quase dois mil anos depois de Cristo e ainda engatinhamos nessa seara. Temos, então, no plano espiritual, os inimigos pessoais, de uma família ou da própria sociedade perturbando-os, estimulando pensamentos doentios e afligindo a paz durante o sono. Caso a pessoa não possua como hábitos uma vida pura, de oração e abnegação, o que é comum, torna-se vítima fácil dos que contra ele atentaram em vida. O criminoso se une ao padrão mental da vítima e passam a conviver, de modo ainda mais próximo, tendo ambos embaraços que se multiplicam graças ao ódio que os alimenta.
Caso esse homem, ou qualquer outro criminoso, recebesse da sociedade um tratamento diferente, podendo reparar seus erros com serviço e trabalho, o quadro poderia ser diferente. Não poderia nos acusar de usar para com ele dá mesma moeda, do mesmo tom e no mesmo nível de crueldade. Ademais, quem sabe se, tendo a oportunidade de pensar, no dia-a-dia sobre os efeitos da sua brutalidade, sua conduta não se transformasse?
O tema é polêmico e não espero que a conduta do amor seja amplamente compreendida. Somente sei que qualquer um que condenemos à morte, irá partir, provavelmente, nos amaldiçoando. Ao invés, caso tivesse sido tratado com mais humanidade, uma humanidade que acreditamos que nem mereça, pudesse refletir e, quem sabe ainda nessa vida vir a requerer de nós o verdadeiro lenitivo que repara: o perdão...
(Jurandir Araguaia é escritor goiano, palestrante motivacional espírita, bacharel em Ed. Física e Adm. de Empresas, ex-fiscal-ambiental/Goiânia e Auditor Fiscal/Go).