TRAVESSÃO

Para Drummond, no meio do caminho tinha uma pedra; tinha uma pedra no meio do caminho. No início da frase tinha um travessão. Por que não? Tinha um travessão no meio da frase. No fim da frase também tinha um travessão. Ufa! Até parece quebra-molas, mas esse sinal gráfico é tipicamente democrático, pois, entre outros avisos, marca o início e o fim das falas, significando diálogo e delimitando o espaço de cada interlocutor. Coisa que nem sempre ocorre na comunicação oral, quando muita gente atropela o interlocutor, não deixa ninguém falar, inclusive nas entrevistas, pois às vezes o entrevistador fala mais que o entrevistado.

O travessão é um aviso de que se trata de interlocutores e não de locutor. Nesse caso, sim, é que é previsto o monólogo, que também tem seu lugar, e lugar de destaque ou de âncora, numa exposição, num telejornal.

No teatro, é famoso o monólogo de Hamlet, em Shakespeare. E o poema Monólogo das Mãos? Que tal?

O travessão também é econômico, marcando as sínteses no final de um texto. E é prestativo, pois usado para substituir vírgulas ou parênteses e intercalar orações num período gramatical. Não è à-toa que sua terminação já é de aumentativo, travessão, como se fosse uma travessa grande, um aumentativo de travesso ou um tipo de vento, vento travessão. Também, traçado perpendicularmente à pauta musical e, atravessando-a, o travessão serve, com o nome de barra de compasso, para separar os compassos. No Ceará, mais que barra de compasso, travessão é dança, dança cantada em fileiras opostas, sem acompanhamento instrumental, e durante a qual os pares se aproximam e os cavalheiros trocam de lugar com as damas. E ainda outros significados de travessão. Travessão, um montão de utilidades. Sutilezas. Sabores de linguagem. Graças da língua. E graças à língua portuguesa! Vale a pena conferir, em qualquer dicionário analítico, o verbete travessão e seu sinal gráfico correspondente. – Até a próxima!

Prof. Antônio de Oliveira

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