ALEGRIA E TRISTEZA

Eu ria e chorava como se sincronizando tristeza com alegria, a um tempo enlouquecido e feliz, melancólico e eufórico, rindo às lágrias, enquanto o silêncio da madrugada me observava em seu mutismo milenar e meus pés me conduziam para muito além da imaginação. Ninguém em canto nenhum, a não ser eu sozinho, montado nesse misto de entristecimento e êxtase como se a buscar algo quem nem os sonhos revelavam. Nada me importava, se nalguma esquina haveria alguém à espreita, se um cão esquecido me pediria atenção, se uma nuvem mais afoita cuspiria sobre mim, se qualquer estrela cadente se debruçasse do céu meio tonta e viesse me cumprimentar, tudo isso e mais o inexplicável não me traria à sobriedade, nada me impediria de seguir em frente para descobrir que nada havia adiante, apenas escuridão ou luzes baças, tranquilidade, solidão, medo, nada.

Eu apenas ia, vivo mas banhado em lágrimas enxugadas por risos loucos e lúcidos, dançando de felicidade e, pasmem, me via também clamando deprimente, abraçado na minha própria solidão e livre tanto para cair de corpo inteiro nos braços da felicidade quanto para despencar de vez, sem refletir um instante sequer, nalgum abismo existencial incapaz de ser descrito, profundo, estranho, mortal. Por que isso, razão há para tanto? Como saber? As respostas são tão difíceis de encontrar, e nem sempre existem para todos os tipos de perguntas, pois afinal de contas há tantos mistérios escondido no recôndito dos corações. E quando o assunto é angústia, dissabor, amargura, razões surgem tantas para tentar responder, explicar, dizer. Ou, então, estas se dispersam, fogem, desaparecem, somo como se fumaça.

E lá estava eu nesse caminho tresloucado de dor e euforia, de sonhos ilusórios e realidade absurda, perdido, desencontrado, achado e desaparecido, morto e exausto pela melancolia, porém vivo no tocante ao exultar do inesperado, ao rompante de um sorriso, ao clamor do esfuziante. Corria sem saber aonde ir, parava subitamente desconhecendo onde me encontrava, cego, desgrenhado, oculto de mim mesmo, andando ou correndo sem rumo, vislumbrando nitidamente o nada da totalidade e o tudo do extraordinário vazio. Sem ir, contudo indo, chorando, cantando, gritando, calando, sem voz, no silêncio de mim, no pulsar latente dum coração esmorecido, entorpecido, distraído, perecido...eu comigo, com outrem, sozinho e na companhia de uma solidão estonteante e lúgubre.

Preferi não mais prosseguir, a vida não estava à frente, nem nos fragmentos deixados para trás, talvez nem tanto num ou noutro, decerto no ar, no extenso mar misterioso, nas nuvens alvas como o algodoal, nas folhas farfalhando à brisa, no gorgeio das aves, no perfume das flores, no amor dos sabiás, no revoar das borboletas. Já não valia mais a pena seguir ou ficar, chorar ou sorrir, caminhar ou voar, eu agora só haveria de querer mesmo é ser feliz de qualquer maneira, parar logo os lamentos, jogar tudo para cima e rasgar as saudades, matar as lembranças negras e trazer à baila só aquilo, o tudo, que me provoca êxtase.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 31/10/2012
Código do texto: T3960980
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