PSIQUÊ - A ESSÊNCIA DA ALMA HUMANA - (MITOLOGIA GREGA)

PSYQUÊ

(Crônica de Carlos Freitas)

Doze séculos! Hiato existente entre o surgimento da Mitologia Grega (700-AC), e de Sigmund Freud (1856) - pai da Psicanálise, com suas meditações, estudos e teorias frenéticas, intrínsecas à vida psíquica consciente e inconsciente, e dos mais profundos, instigantes e intrigantes segredos da alma e mente humana.

Os gregos, através dos Deuses e Semideuses criados na sua rica Mitologia, já estudavam e vivenciavam os enigmas e sentimentos do modus vivendi dos mortais, em todas as suas nuances naturais e psicológicas, com seus arquétipos, os quais revelavam premissas preciosas, e análises sobre a natureza humana. Essa riqueza cultural e literária incomensurável tornou-se patrimônio da humanidade.

A história de Psiquê (a essência do ser humano) é uma dessas maravilhas. - Vamos a ela?.

... Das três irmãs, Psiquê era a caçula. Uma Linda mulher! Quiçá, vestida de vermelho! Imponente, corpo longilíneo, cabelos negros, olhos amendoados... De tirar o fôlego! Richard Ghere a amaria. Mais que isso... Era uma princesa rica e cobiçada. Objeto de culto. Afrodite invejava sua beleza. Ninguém se atrevia a um affair, ou, com ela casar-se. Desesperado, seu pai (nome desconhecido), vai pedir ajuda ao Deus Apolo, e dele ouve surpreso: – Vista-a com roupas de luto. Deixe-a só no topo da montanha. Antes do raiar do dia, uma serpente irá desposá-la. Assim o fez. Horrorizada, com muito medo e frio, Psiquê ali ficou à espera do prometido... Ou, da morte! Zéfiro, o vento do Oeste, tirou-a dali deixando-a numa planície às margens de um regato. Embalada pelo burburinho da água - adormeceu. Ao despertar, viu-se no interior de um exuberante palácio. Não era mais apenas Psiquê! Era agora uma rainha... Uma poderosa soberana!

E assim, passou a ser sua vida: seu amado aparecia ao cair da noite, com ela fazia amor, adormecia, acordava e ia embora. Dele ouviu certa noite: “No palácio terás tudo o que imaginar e quiser, com uma única condição - Confie em mim!”. Jamais tente ver meu rosto. Ela assim o fez. Apesar de viver num castelo vazio, era feliz. Tinha poder, riqueza, carinho, amor e paixão pelo secreto e noctívago amante. Às vezes, se desesperava com a ideia de que ele fosse a horrenda serpente. Psiquê vivia o tão sonhado conto de fadas, todavia via-se aflita por conta daquele enigma. Conversando com as invejosas irmãs, sugeriram que numa noite qualquer, se aproveitasse do sono do amado e desvendasse o mistério. Que o iluminasse com uma lamparina, e o matasse com uma faca. Assim, ela o fez! Ao iluminá-lo, atônita Psiquê descobriu que a seu lado dormia um homem de incrível e fascinante beleza: era Eros!- filho de Afrodite, que o incumbira de atingi-la com sua flecha, para que se apaixonasse pelo mais vil dos seres. Porém, ele acabou amando-a assim que a viu! Assustada deixou cair um pingo de óleo quente sobre seu ombro. Além da dor, despertou-o a luz que incidia sobre seu rosto. Decepcionado, concluiu que a mulher que amava, era incapaz de guardar seu único segredo e desejo. Desapareceu dizendo: “O amor não pode viver sem confiança”. E eu digo: “O amor nasce e floresce, quando se aprende a arte de assimilar e aceitar as diferenças do outro”.

Sozinha, insegura e arrependida, Psiquê implorou ajuda a várias Divindades. Foi ter com Afrodite, que como disse, invejava sua estonteante beleza. Após encerrá-la no palácio, Afrodite como castigo infligiu a ela rudes tarefas: separar grãos misturados, apanhar lã de carneiros selvagens e, encher um frasco com a água negra do Rio Estinge.

Na primeira tarefa, contou com a ajuda de um batalhão de formigas para separar os grãos. Na segunda, ajudou-a os caniços a beira de um riacho, que lhe sugeriram esperar o final da tarde, para apanhar os fios de lã presos aos arbustos espinhosos. Na terceira, uma águia tirou-lhe o frasco das mãos, voou até a nascente do rio, trazendo-lhe o precioso liquido negro. Ao ver que Psiquê cumprira os desafios, e não satisfeita, Afrodite a incumbiu de uma última tarefa: Que fosse até aos Infernos ou Tártaro, e trazer numa caixa selada, um pouco da beleza de Perséfone, esposa de Hades – Deus do Mundo dos Mortos, irmão de Zeus. e filha de Zeus e Deméter.

Uma torre ensinou-lhe os caminhos do Mundo das Sombras. Orientada, pagou o óbulo (moeda grega) ao barqueiro Caronte. Abrandou a ferocidade de Cérbero (cão de três cabeças), oferecendo-lhe um bolo. Missão cumprida, Psiquê viu-se curiosa e induzida em conhecer a beleza encerrada na caixa. A sua não bastava! Maldosamente, Perséfone colocara na caixa uma porção de sono! Ela a abriu... E tombou desfalecida em profundo sono.

Ao acordar, viu-se envolvida pelos braços de Eros, que nela tocara com a ponta da sua flecha! O caminho do Olimpo foram os próximos passos dos jovens amantes. Lá, Eros rogou a Zeus que abençoasse sua união com Psiquê, tornando-a imortal. Zeus assim o fez. Tempos depois, desse amor nasceriam trigêmeos – Eros II, Volúpia, símbolo da personificação do prazer em todas as suas formas, e Volúptas, segundo a mitologia: um anjo travesso e também Deusa do Prazer.

Estudiosos e analistas afirmam que Psiquê seria a essência da alma humana purificada pelas desgraças e sofrimentos, preparando-se para desfrutar a verdadeira felicidade.

Carlos Freitas
Enviado por Carlos Freitas em 30/10/2012
Reeditado em 06/01/2019
Código do texto: T3959983
Classificação de conteúdo: seguro