O calor? Ela tinha certeza, beirava aos 300º. Verdade que ainda não tinha um termômetro em casa, mas ia comprar um, só pra confirmar que não falava mentiras quando comentasse o calorão, no dia seguinte. Mas era guerreira! Era preciso bem mais que um ensaiozinho do inferno na terra para desmoralizá-la e fazê-la ter problemas com o sono. Heroicamente, aprontou a cama e foi dormir. Rolou daqui, rolou dali, não conseguiu. Também naquele dia Guaraci, o dos irmãos silvícolas, tinha exagerado... O dia inteirinho torrando tudo! Abriu as janelas. Um cochilo, e foi logo saudada por uma banda de música formada por integrantes do mundo inteiro: uma legião de pernilongos que ameaçavam levá-la de seus domínios...
Ia se amofinar? Xingar? Esbravejar? Resmungar? Contra quem? Catou o travesseiro e foi dormir na varandinha do jardim. Exultou intimamente: por que não tinha tido aquela ideia antes? Tão simples, tão melhor, quase agradável! E teria mesmo dado certo, não fossem os colegas pernilongos que lhe pegaram amizade... E ainda o tétrico assobio de mil morcegos a voejar nas imediações. É que ali perto havia uma área de antigas e sombrias mangueiras, esconderijo dos simpáticos e únicos mamíferos voadores, que à noite saíam para fazer a festa... E que festa acordar com um bichinho aveludado daqueles, caindo bem em cima da barriga! Teve um arrepio e retornou ao seguro e tórrido interior da moradia...
Voltou pra cama. Cochilou e acordou com o pijama grudado no corpo. O suor gotejava por todos os poros, o cabelo enrolado num coque, todo colado. Culpa do colchão novo. Tinham lhe falado que aquela marca era cara, mas era es-pe-ta-cu-lar! Era mesmo... Pra pegar fogo em noites calientes como aquelas! Agora entendia com clareza (e calor) o literal significado da expressão “ se queimar na fogueira das vaidades”. Bebeu água, tomou um banho... Tudo em vão! Ah, que vontade de ligar o ar! Que vontade de ligar o “Tufão”, (nada de Tufa da novela, só o ventilador da casa da amiga Vanessa)... porque ela mesma não tinha nem ar, nem ventilador: era alérgica a tudo que refrigerasse por meios antinaturais... Espirros, garganta seca, voz sumida... Coisa de gente cheia de chilique!
Não ia reclamar! Ia era abrir a casa inteira! Escancarou portas e janelas para entrarem as deliciosas e notívagas correntes de ar da madrugada. E elas entraram... Mas foi em greve! Quem lhe deu a notícia foi a cortina completamente imóvel que não se mexia de jeito nenhum! Ô noite! E o relógio só voando. Duas, três, três e meia... Batendo à porta, o romper da aurora. Queria ver como é que ia trabalhar no dia seguinte! Ia acordar um trapo! E acordar, naquela situação, já era pensar bastante positivo...
Resolveu peregrinar pela casa. Numa demonstração de total ignorância, tentou a área perto da geladeira. Inútil! O eletrodoméstico era geladinho só mesmo por dentro. E aquele barulhinho do motor competindo com o calor? Dava empate! Foi pra sala tentar o sofá. Nem cinco minutos! Uma cochilada e a sensação de que saía de um forno a sacudiu: Ctrl C/ Ctrl V do colchão! Insuportável. Insistiu num outro quarto da casa. Quem sabe ali fosse mais fresquinho. Abriu a janela e deixou os braços negros da noite adentrarem, trazendo consigo a esperança de um arzinho mais fresco... A banda de música se apresentava lá também e insistia em tirá-la para uma valsa... de tapas e pontapés contra si mesma. Enrolou-se no lençol para não ouvir a orquestra. Foi aí que viveu a estranha experiência de ser um tomate desidratado...
Por fim, acendeu a luz. Tinham lhe dito que pernilongo não gosta de luz. Os dali gostavam, pois não se intimidaram nem um pouco com os zilhões de watts em cima de suas trombetas. Aí que zuniram bonito mesmo! Com a luz, o calor redobrado! Estratégia descartada, apagou a lâmpada... Mas nem tudo estava perdido. A longa e escaldante noite estava no fim! Bom que não ia ter trabalho de se levantar, uma vez que não tinha se deitado. Tá vendo? Tudo tem seu lado positivo. Resolveu: não ia trabalhar. Não podia correr o risco de dormir no lugar errado: sob as vistas do chefe. Quando a turma do firim-fim-fim sossegou, ela caiu na cama e finalmente entregou-se aos braços de Morfeu... Acordou só mais tarde, prontinha para enfrentar mais um longo e cálido dia de verão, em plena primavera...
Voltou pra cama. Cochilou e acordou com o pijama grudado no corpo. O suor gotejava por todos os poros, o cabelo enrolado num coque, todo colado. Culpa do colchão novo. Tinham lhe falado que aquela marca era cara, mas era es-pe-ta-cu-lar! Era mesmo... Pra pegar fogo em noites calientes como aquelas! Agora entendia com clareza (e calor) o literal significado da expressão “ se queimar na fogueira das vaidades”. Bebeu água, tomou um banho... Tudo em vão! Ah, que vontade de ligar o ar! Que vontade de ligar o “Tufão”, (nada de Tufa da novela, só o ventilador da casa da amiga Vanessa)... porque ela mesma não tinha nem ar, nem ventilador: era alérgica a tudo que refrigerasse por meios antinaturais... Espirros, garganta seca, voz sumida... Coisa de gente cheia de chilique!
Não ia reclamar! Ia era abrir a casa inteira! Escancarou portas e janelas para entrarem as deliciosas e notívagas correntes de ar da madrugada. E elas entraram... Mas foi em greve! Quem lhe deu a notícia foi a cortina completamente imóvel que não se mexia de jeito nenhum! Ô noite! E o relógio só voando. Duas, três, três e meia... Batendo à porta, o romper da aurora. Queria ver como é que ia trabalhar no dia seguinte! Ia acordar um trapo! E acordar, naquela situação, já era pensar bastante positivo...
Resolveu peregrinar pela casa. Numa demonstração de total ignorância, tentou a área perto da geladeira. Inútil! O eletrodoméstico era geladinho só mesmo por dentro. E aquele barulhinho do motor competindo com o calor? Dava empate! Foi pra sala tentar o sofá. Nem cinco minutos! Uma cochilada e a sensação de que saía de um forno a sacudiu: Ctrl C/ Ctrl V do colchão! Insuportável. Insistiu num outro quarto da casa. Quem sabe ali fosse mais fresquinho. Abriu a janela e deixou os braços negros da noite adentrarem, trazendo consigo a esperança de um arzinho mais fresco... A banda de música se apresentava lá também e insistia em tirá-la para uma valsa... de tapas e pontapés contra si mesma. Enrolou-se no lençol para não ouvir a orquestra. Foi aí que viveu a estranha experiência de ser um tomate desidratado...
Por fim, acendeu a luz. Tinham lhe dito que pernilongo não gosta de luz. Os dali gostavam, pois não se intimidaram nem um pouco com os zilhões de watts em cima de suas trombetas. Aí que zuniram bonito mesmo! Com a luz, o calor redobrado! Estratégia descartada, apagou a lâmpada... Mas nem tudo estava perdido. A longa e escaldante noite estava no fim! Bom que não ia ter trabalho de se levantar, uma vez que não tinha se deitado. Tá vendo? Tudo tem seu lado positivo. Resolveu: não ia trabalhar. Não podia correr o risco de dormir no lugar errado: sob as vistas do chefe. Quando a turma do firim-fim-fim sossegou, ela caiu na cama e finalmente entregou-se aos braços de Morfeu... Acordou só mais tarde, prontinha para enfrentar mais um longo e cálido dia de verão, em plena primavera...