A INTELIGÊNCIA E O DESEQUILÍBRIO

El equilibrio mental, juicio recto, valor moral, audacia, resistencia, forma de tratar al prójimo y cómo sacar el mayor bien de los contratiempos son cosas que no se aprenden en la escuela.

(Alexis Carrel)

Final do ano de 1965, mais precisamente na semana do natal, dois amigos conversavam animadamente na rua principal da cidade de Ouro Preto-MG, eram funcionários de “carreira” da Caixa econômica Federal. De repente, duas crianças maltrapilhas se aproximaram deles e uma delas disse: " me dá um trocado para eu comprar pão?” O mais jovem dos bancários respondeu prontamente: "não, por que vocês não vão roubar?" Em seguida olhou atentamente para os dois pivetes continuando a falar, agora num tom mais alto:

"furtar é muito mais rendoso que ficar se humilhando pelas ruas, vocês não sabem o tempo que estão perdendo...!" Os meninos se afastaram rapidamente e desconcertados com os “conselhos” daquele estranho homem.

Entrementes, esse rapaz que deixou os meninos pedintes sem ação, ingressou na escola de Engenharia. Lá, filiou-se ao centro acadêmico, tornando-se em pouco tempo, presidente do referido órgão estudantil de sua faculdade. Apesar de não ser carismático, tinha uma inteligência privilegiada e grande capacidade organizacional. No movimento estudantil aderiu as causas ligadas à oposição ao governo, ligando-se a outros movimentos estudantis, centralizados pela UNE. Posteriormente, depois de muita militância estudantil, foi acusado de ter usado o rádio do banco onde trabalhava (naquele tempo não havia Internet), por passar informações privilegiadas para “terroristas”, sendo preso e torturado e depois liberado, pois não conseguiram provar nada contra ele.

Passado a ditadura militar filiou-se a oposição, mas não saiu candidato para cargo eletivo, todavia organizou a esquerda na cidade. De vez em quando, discursava denunciando os políticos da época do regime militar. “Indivíduos forjados nos sovacos da ditadura”, palavras duras proferidas por ele durante os comícios. Depois de formado, dedicou-se ao ramo imobiliário, rapidamente conseguiu grande fortuna. Com isso acabou pedindo demissão da instituição bancária que trabalhava. Não saiu “de mão abanando”, pois recebeu grande quantia em dinheiro, haja vista ter sido indenizado pela prisão injusta, uma causa ganha na justiça.

Rapidamente a riqueza material "abrandou" seu coração, o espírito do revolucionário extremista foi substituído por um de uma avidez sem limites. Naquela época, com a inflação em alta, o ex-militante esquerdista passou a comprar dólares, guardando-os em casa. Entretanto, já não havia espaço para tanto dinheiro no cofre de sua mansão. Então, passou a enviá-lo para fora do país, utilizando-se dos serviços de um doleiro. O homem levava periodicamente o dinheiro e aplicava em negócios em Miami. Com o tempo, ele desconfiou que estava sendo enganado. Passando a fazer pressão sobre o pretenso golpista, na tentativa de reaver seu capital. Essa pressão acabou por resultar em tragédia, pois, o referido meliante acabou por assassiná-lo em sua própria casa com um tiro na cabeça. Um final prematuro e trágico de uma vida que tinha tudo para ser brilhante. Infelizmente, uma vida contraditória, do começo ao fim!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 29/10/2012
Reeditado em 02/11/2012
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