Bandidos sem Fardas e Fardados
Para onde correr? neste século de sangue, onde a vida vale menos que uma bala de maçã verde, não temos boas expectativas nem enxergamos paz dentro da perspectiva. A televisão mostra imagem de um bandido que arrasta uma senhora pelos cabelos, lá fora dentro do carro sua filhinha de dez anos sai desorientada temendo pela vida da mãe e é brutalmente executada com um tiro no peito, isto foi em Uberlândia, dentro das Minas que já foram pacatas Gerais. No Rio de Janeiro rapazes de bem sem envolvimentos com crime algum, pegaram por empréstimo o carro da mãe para curtirem uma festa mas em certa altura da viagem o pneu estourou. Um bandido fardado e credenciado para proteger a população que recebe muito bem por isto, julgou o ruído como de um estampido de arma de fogo. Nesta hora se dando o direito de julgar aquela ação confusa e decretar a sentença de morte ao rapaz, apontou seu fuzil para a janela que estava fechada do lado do motorista e disparou. O pai do rapaz choroso e inconformado mostra as fotos e os planos dele que dedicou sua vida as artes marciais e agora estudava para passar no concurso do corpo de bombeiros. Há um ditado que de tão antigo, precisamos voltar a mais de mil anos no tempo para usa-lo “Se correr o bicho pega se ficar o bicho come”. É o que precisamos como cidadãos altamente onerados pela carga tributária, sabermos se vamos optar por um ou pelo outro. A bíblia diz que não devemos servir a dois senhores por isso acho bom não ficarmos em cima do muro, pois além do perigo de vida diário vem o pecado mortal. Serafim Bordador trabalhou muito tempo em uma fabrica de sandálias que funcionou no Bairro São José ao lado da Policlínica. Hoje o local está vazio com as paredes no chão, um imenso cemitério na memória do negro comedor de joelho de boi no feijão, que conta quantas vezes quiserem a mesma história sem mudar uma virgula de lugar para um dia alguém publicar em um livro. Bem, era noite de de agosto de 2003 quando Serafim terminou as obrigações como tocador de caixa na marujada, as ruas em torno da matriz pareciam que estavam encantadas, com muita gente feliz e saudando; São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e o Divino Espírito Santo. Morador do Delfino Magalhães Serafim pegava uma carona que passava as vinte e três horas e vinte minutos, assim lhe dava tempo de tomar uma cachaça e comer a farofa de carne da barraca da Neuza, este dia o papo foi além e quando olhou no relógio era dez para meia noite. Preocupado, por já ter até perdido o horário de ônibus pôs-se a caminhar rumo a rua Belo Horizonte, pés latejando das horas de sapateado não via ninguém conhecido mas o efeito da pinga na cabeça o fazia apertar o passo. Ao passar sob o viaduto do roxo-verde dois sujeitos lhe abordaram com um canivete, queriam dinheiro...dinheiro ele não tinha, pediram qualquer coisa de valor mas nem o cordão que carregava no pescoço valia alguma coisa, já que era os restos do seu cordão umbilical costurado pela mãe. Então o que restou foi a agressão, um veio de uma lado com uma pedra e o outro com o canivete mas Serafim é filho de Aruanda e jogou capoeira como o mestre lhe ensinou, arrancando-lhes as armas das mãos e os fazendo correr sem direção. Um entrou para o Bairro de Lourdes e o outro para o Santa Rita, este menos sortudo fora seguro pelo Marujo que na primeira gravata teve o azar de aparecer a polícia. Azar para Serafim que viu o bandido ser solto e ele apanhar “igual cachorro sem dono” como o próprio argumenta e ser jogado pelos fundos da calça na Viatura. Por via das duvidas vamos todos andar, como as prostitutas de Porto Alegre “zanzam nas esquinas”, para que o bicho nem nos pegue e nem te coma.