A RESPOSTA ESTÁ EM NOSSAS FACES
A correria do dia-a-dia e seus rodeios já nos são suficientes para mantermos uma condição de stress considerável, no entanto quando algo de inesperado acontece, esse nível se eleva preocupantemente. Sobretudo quando envolve questões de saúde com pessoas próximas, e não podemos recorrer ao sistema privado hospitalar, que conta com indiscutível qualidade, porém muito distante da realidade da maior parte da população brasileira, que depende do atendimento público.
Entramos injusta batalha contra o tempo e a dor, que somadas à preocupação com o ente que esta sofrendo ao nosso lado, torna angustiosa a expectativa de um leito. O pior da espera é ver as faces dos que também estão nesse purgatório, uns em condições piores que os outros, estampando a aflição por uma chance de ser atendido.
Dentre todos aqueles rostos padecedores, se destacava um, no qual corriam incessantes e inocentes lágrimas, que vinham acompanhadas de suplicas à sua mãe para ir embora, que em pé a segurava no colo, andando de um lado para o outro, numa espécie de embalo de ninar, tentando acalmar a sua filha, de apenas seis anos, que devido a uma forte alergia, esperava já há três horas pelo atendimento.
Contagiado e comovido por aquela cena, vendo que a mãe já não sabia mais o que fazer para confortar a menina, encontrei dentro da antessala da Emergência uma folha de uma revista velha, que estava por ali jogada. Relembrando a infância, onde não convivíamos com eletrônicos e a nossa imaginação voava longe nos brinquedos simples. Confeccionei um balão de papel, tipo aqueles de festa junina, agachado, apoiando o papel sobre a perna, saiu meio torto, sem jeito. Porém, quando levantei para entregar o singelo presente à inocente menina, as lágrimas de seu rosto já tinham se enxugado, e sua expressão havia se iluminado, com um sorriso reconfortante. A mãe agradeceu, e a duas, logo após, foram chamadas ao atendimento, a menina se distanciou ainda no colo da mãe, abanava segurando firme aquele mero pedaço de revista velha dobrada.
Ainda emocionado com o fato, passei a refletir, e perguntar: será justo que exatamente a parte da população mais carente precise passar, diariamente, por essa condição de sofrimento e tormento, em busca de um direito básico fundamental, a saúde?
Talvez a resposta dessa e de muitas outras perguntas sobre esse assunto sejam respondidas, cobrando de nossos representantes soluções concretas, que partam da iniciativa de políticas públicas, da premissa de estabelecer prioridades para atender as necessidades básicas da sociedade.
É preciso procurar a mudança, e acreditar nela, mesmo que ela surja dos lugares e nas condições mais inesperadas, do sorriso de uma criança ou de um pedaço de papel.
Lucas Carini
Estudante de Direito
25/10/12