Excelente manhã na escola

Considero absolutamente simplificado adotar uma verdade unilateral em seu conteúdo prático. Indagação: “por que 89% dos estudan tes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o esperado em matemática?”. Na verdade todos nós em algum momento somos ignorantes funcionais.

Ao texto a certeza inabalável: “aulas pouco dinâmicas, somando-se alguns alunos desmotivados, professores com formação deficiente.” Em suma: o professor é o culpado subtendido em três itens da equação informativa. Falta de dinamismo, falta de motivação, e formação deficiente. Lindas manhãs de escola perdida.

Em todos os casos este é o trabalho do professor. A desgraça recai sobre ele no maior conforto da certeza. Isso alguém chama de equação perversa. Matemática ideal, pura. Cobertura de barro de lirismo sobre o processo em questão. Inexiste qualquer relação com o avanço tecnológico e o impacto no mundo moderno? Fonte básica da “desmotivação” para o conhecimento, visto que o conhecimento pode ser adquirido instantaneamente fácil. No rótulo da salada, no comercial do peixe... No diferencial até o genérico, no desejo de tudo possuir ao esquecimento da limitação completa. O convite para a constante novidade produz alunos absolutamente descentralizados e com déficit de atenção. Produz alunos-homens que acreditam na liberdade pelo instinto da insubordinação. O alimento do conhecimento diante da incerteza do futuro parece inexato, pouco concreto.

Longe disto a matemática constrói pirâmides e leva o homem a lua.

Por que razão o professor deve arcar com esta responsabilidade específica? São os professores ineptos em tornar alunos desinteressados em matemáticos? Paciência em aprendizagem é um truque da ioga. O desempenho adequado deveria estar ligado exclusivamente ao fundamental salário da categoria diante de certa inclinação ao respeito espontâneo do conhecimento pelo conhecimento.

É o capitalismo sobre o sentimento jesuítico da educação gratuita em nome de maior dimensionamento geográfico. Retrato do professor espiritual ilustrado e místico. Debate-se na dificuldade real enquanto se curva diante da pesada e cruel tarefa de esclarecer matematicamente o fracasso humano da maioria.

O professor moderno é a chama da curiosidade. Fuga e mágica na palestra que deve ser espetáculo. Encaminha-se na atualidade com o sentimento de vila sonhando com visão tecnológica. Sou pelo tablet para cada menino. Isso provavelmente consumiria a atenção dos infantes mais desembestados. Mas é o professor quem recebe o choque dessa ausência, limitação desses recursos. A grande maioria ainda vive para alimentar o modelo clássico da estrutura discente, e nem se adapta perfeitamente a tecnologia que ainda não dispõe. Detalhe. Está em desvantagem duas vezes ou mais. Visualiza o plano de aula tecnizado e a importância do saber oral clássico, porém reconhece que há pouca ligação com a melhoria real do ambiente em que vive. Atualmente temos o Tutor. Temos o domínio da experiência em autodidatismo disfarçado.

O jornalista precisa contar outra. A raiz do fracasso fenomenológico está no sentimento da comunicação como gratuidade cultural. Isso desvaloriza o salário dos professores. Sentimento de que somos cultos lendo jornais, assistindo os canais de televisão, e até acessando a internet. (Ponto alto do momento até a próxima atualização de consumo cultural). Esse sentimento de gratuidade cultural é à base da derrocada educacional em termos de sentimento e expectativa maior de uma excelente manhã na escola.

Depois até criança pequena compreende que a excelência da matemática em sua atitude de perfeição desenvolve a plena leitura da iníqua disparidade econômica no quadro geral. Como algo tão exato permite tamanha imperfeição. Fator determinante para o descaso.

Fruto de certa desilusão de consumo prático a matemática assusta como cansativa preleção sobre cosmologia agrícola. Esse desencantamento produz o verdadeiro inferno desigual em que vivemos. É evidência como prova material de crime. Está subtendido na matemática histórica da existência cotidiana. Há nisto um desencantamento sub-reptício contra a experimentação da computação desigual enquanto instrumento de injustiça social. Na impotência do consumo até a necessidade completa. Triste desvario. É a resposta para o X que facilmente obtemos na breve apreciação superficial, mas de grande impacto. É visível na problemática das escolas.

Já o processo educacional exige profundidade o que é dispensado em algum momento em outras dimensões. Professores jamais alcançam fama através dos meios de comunicação exceto por exceção. Para ampliar a pauta temos esta indagação: Algum professor percebeu soldo extra por ter ministrado a milésima aula? O futebol é fruto da imprensa, o professor não. Professor só é objeto de mídia na exceção. Ele se cala quando precisa dizer que a matemática vai bem. De resto é mar.