O monólogo de Judas
Ouço vozes no meu silêncio noturno...
E vejo os olhos dela; incendiando meu refúgio.
Receio à mão espalmada, ofertando-me trinta moedas
e a boca porca, rindo ironicamente do gesto.
Sinto os vermes manifestando sua fúria sobre o meu cadáver
e os roedores cuspindo minha carne sobre suas fezes.
_ Riam! Desgraçados andarilhos do lixo... Riam!
Vejo a lama e as larvas; as moedas sobre o meu esqueleto...
Dane-se Pilatos!
Tuas mãos foram lavadas e eu recebi o veredicto... Culpado, traidor!
Ouço vozes no meu silêncio noturno...
E ouço as correntes do portão de ferro, o sino da capela:
_ Blem! Blem! Blem!
_ Alto lá! Quem são os loucos que vestem preto e fazem festa,
bebem rum e transam sobre a minha tumba.
Malditos hereges!
Eu também carrego os pecados da humanidade.
Vejo o novo Pilatos, de olhos vendados, lavando as mãos nas águas da impunidade.
Ouço vozes no meu silêncio noturno...
Ouço as mães que choram por seus filhos, mortos ou seduzidos pelo dinheiro do tráfico e vejo os inocentes vitimados, pelo sistema único de saúde.
Eu sinto fome e me alimento na ineficiência e na ignorância dos corredores de Brasília, onde observo satisfeito; os adoradores do dinheiro, os traidores da Pátria. Ouço o riso lacônico dos infelizes, enaltecidos e enriquecidos pelos senhores do sistema financeiro.
Ouço vozes no meu silêncio noturno...
E comemoro a ascensão daqueles que me farão companhia, no seu pranto de desespero, nas suas lágrimas de indignação, eu manifesto a minha luxúria, sob a lápide do meu cativeiro e estremeço as estruturas da Psicologia...
Meu nome é Judas!