Os meus tempos...Os seus tempos....
"Ai que tanto de saudades às vezes toma conta de mim.
Ontem, andando na rua ví uma criança conversando com a mãe e ela dizia:
-Mãe, tá na hora.Mãe vou me atrasar!
E a mulher prestava a atenção na oferta relãmpago do supermercado.
-Pera aí meu filho.Isso custa caro e tá barato demais! Disse ela.
E o menino continuava a segurar pela saia dela e puxando.
Há tempos não via uma criança puxando a saia da mãe! isso eu costumava ver nos meus tempos de menina, levada que eu só, subia nos galhos do pé de cajá e comia a fruta azedinha alí mesmo em cima dos troncos. O sabor escorria pela boca e eu me satisfazia só com isso.
Hoje, vejo que as pessoas, as crianças não se sentem satisfeitas com uma mordida num cajá, numa goiaba.
Oh, gente! A criança de hoje mal sabe o que é goiaba ou cajá. O que conhecem são as uvas formosas que enfeitam as prateleiras dos supermercados.E são caras, caras.
Quando eu era menina, sentava embaixo da parreira de uva que meu pai fizera e ficava escutando Elton John.E rabiscava já num caderno algumas coisas que mais tarde seriam uma profissão de fé.Escrever!
Meu pai ficava de olho quando os cachinhos começavam a brotar e eu e minhas primas sentávamos exatamente lá embaixo e quando ele se distraia, lá iamos nós arrancando um cachinho.
E que alegria quando as uvas ficavam madurinhas de escorrer pela parreira.Parecia o vinho já pronto.
Tempos bons esse, meu Deus.
Lembro que quando ameaçava chover, corríamos pra dentro de casa, sentávamos todas na cama e ficávamos vendo "Jeannie é um Gênio", imaginando que aquela lâmpada poderia chegar até nós. Como éramos inocentes e lindos!
A chuva fazia barulhinho bom e íamos olhar as goteiras na tardinha, achando que eram soldadinhos e que marchavam lentos.
Um dia minha avó me disse: terçol se cura passando as primeiras gotas da chuva da manhã. E como tínhamos terçol. Hoje, acho que ninguem mais tem.Até com isso acabaram.
O arco-íris tinha um caldeirão de ouro no fim dele.Quantas vezes íamos até o final da rua achando que a gente alcançaria aquelas cores e o final delas, onde o pote nos esperava.
Tempos bons, tempos que nunca mais serão vividos nesta época de hoje, onde os celulares são a comunicação das crianças, onde a internet faz o intercâmbio com amiguinhos virtuais.
Que pena que seja assim!
Mas, voltando a moça e ao filho, ví que os dois entraram numa lanchonete.Alí eu notei o que o menino tanto reclamava. Era a hora de sair a promoção do hamburguer.
E eu que ainda tive esperanças de que a ansiedade dele fosse por que teria um trabalho de colégio pra fazer.
Trabalhos de colégios....Tempos das cartulinas, dos papéis ofícios, dos decalques que a gente molhava na agua.
Tempos que não voltam nunca mais, isso é certo!
Mas, que fique na lembrança de cada um que teve a chance de viver estes dias.
Nunca abandonemos as lembranças boas que nem os nossos netos terão como guardar.
Fica aqui minha saudade....Mas fica muito mais minha certeza de que o que a gente vive , às vezes ninguem pode viver por nós.
E é assim que segue a vida. Só espero que o arco-íris, o soldadinho da chuva, as parreiras de uvas, os amigos reais nunca sumam na nossa esperança.
Dias melhores podem vir....Se voltarmos atrás.!"