REFLEXÕES

REFLEXÕES

Francisco Obery Rodrigues

Tive um colega no Banco do Brasil que era muito espirituoso e, às vezes, criava expressões curiosas. “Dibicar” foi uma delas (verbo que não encontrei nos dicionários). “Podem dibicar de mim”, expressou certa vez a um outro colega, com o seu jeito gozador, isto é, podem zombar de mim. Isso a propósito de qualquer coisa que o companheiro havia dito ou feito. Nunca esqueci tal expressão, da qual vou utilizar-me agora, a propósito de algumas considerações que, nesta tarde chuvosa, já escurecendo, me deu vontade de fazer.

Ando, a esta altura do tempo, já ultrapassados os 82 anos, quando, via de regra, os sentimentos, os pensamentos ou as idéias já se sedimentaram, e a pessoa passa a aguardar o que a passagem das horas e dos dias inexoravelmente lhe reserva, ando, repito, com a mente um tanto perturbada, tantas foram as diferentes experiências vividas.

Todo o tipo de reflexão me ocorre. Reflito, por exemplo, sobre a teoria do big-bang, a respeito da qual andei lendo qualquer coisa recentemente, tema que, como dizia Rolando Lero, personagem da Escolinha do Professor Raimundo (Chico Anízio), “há controvérsias”. O extraordinário fenômeno, por mais que os cientistas tentem comprová-lo – e não está ainda plenamente consolidado - não entra na minha cachola. Para mim, o Universo, o Cosmos, foi criado por Deus, um ser supremo - superinteligente e super-poderoso - que não teria tido princípio e nem haverá de ter fim, conforme aprendi, quando menino, no Catecismo da Igreja Católica. Embora não consiga entender como algo que não tenha tido princípio, não vou me impressionar com isso; deixo para os teólogos e os sábios deístas essa incumbência.

Mas, persisto na minha crença de que tudo foi feito por Deus, pois, do jeito perfeito como funciona o Universo, mesmo na sua incomensurabilidade, algum Ser de supremo poder e inteligência, como disse, poderá ter sido e ser o responsável.

A Bíblia diz que Deus criou o mundo em sete dias. Esses “dias”, entretanto, não foram de vinte e quatro horas, pois nem havia como medi-los, podendo ter tido um número ilimitado de anos (tomando-se por base o calendário gregoriano atual). Isso era o que ensinava o meu antigo professor, Pe. Jorge O’Grady de Paiva, que pertenceu, depois, à Academia de Ciências do Rio de Janeiro, por seu elevado saber. Embora pareça uma lenda, a história da criação do Universo está no Gênesis, no começo do livro sagrado, a Bíblia, Antigo Testamento.

Outro assunto – podem “dibicar” de mim - que mexe com meus miolos é a Teoria da Evolução da Espécie, mais especificamente a Origem do Homem, de Charles Darwin, Já no volumoso Dicionário de Filosofia (1014 páginas), de Nicola Abbagnano, é longo e, confesso, ininteligível para mim, o “verbete” que discorre sobre o “Homem”, com menção aos muitos pensadores que estudaram e emitiram sua opinião sobre este assunto. É, pois, também este, um tema que não consigo aceitar, não me entra, por ser algo transcendental. Pelo que depreendo da leitura das teorias do frade, teólogo, filósofo e paleontólogo, Teilhard de Chardin, cujas obras teriam merecido a consideração de grandes cientistas em todo o mundo, o assunto mereceu a sua atenção. Quem sou eu, pois, para contestá-lo? Apenas, na condição de cristão, não a aceito; fico com a versão da Bíblia.

É possível que já tenha falado sobre esses assuntos em crônicas anteriores, porém, considerando que a gente, quando envelhece, sobretudo já ultrapassando os oitenta anos, normalmente fica com a memória falha, espero que o eventual leitor releve a redundância e a superficial abordagem de temas tão complexos e expostos de forma inextricável.

Provavelmente, em próxima crônica, darei prosseguimento a estas minhas desataviadas reflexões, abordando, porém, outros temas de forma mais lúcida.

(Crônica escrita em out/2006).

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 28/10/2012
Código do texto: T3956693
Classificação de conteúdo: seguro