PARAÍBA - MOMENTO DE REFLEXÃO
Ysolda Cabral
Ysolda Cabral
Com minha filha viajando, sentindo que a saudade e a tristeza queriam tomar conta de mim, resolvi botar o pé na estrada. Até porque adoro viajar sozinha e comigo dirigindo. Precisava aproveitar a rara oportunidade.
A princípio pensei ir para o litoral de alagoas. Depois me lembrei do Por do Sol, ao som do Bolero de Ravel, na Praia do Jacaré, em João Pessoa-PB. Meu coração pulou no peito feliz.
Fiz questão de não levar notebook e nem GPS somente para relembrar os velhos tempos de quando esses equipamentos não existiam e nem por isso eu deixava de ir aonde eu quisesse, sem me perder nos caminhos. Contudo, com esta decisão, terminei por esquecer a câmara digital – achei ruim.
Antes de sair da garagem de casa, selecionei as músicas que queria escutar durante a viagem e deixei os CDs à mão. Coloquei as luvas, – item imprescindível para mim em viagens - o cinto de segurança e rumei ao encontro do lindo Por do Sol que me aguardava.
Infelizmente, o trânsito infernal do Recife, me roubou quase uma hora até chegar à BR 101, para começar a viagem propriamente dita. Não me estressei, nem quando o Céu de repente fechou na divisa de Pernambuco com a Paraíba, e, uma chuva forte desabou lavando a plantação de cana de açúcar, avermelhada pela poeira da terra daquela região. Acho que foi de propósito só para que eu pudesse esverdear o olhar.
- Que coisa mais bonita!
No horizonte, bem à minha frente, o Arco-íris segurava graciosamente os dois Estados em suas extremidades.
Cheguei à Praia do Jacaré quando o Sol acabara de deitar no leito do rio e sua canção de ninar - o Bolero de Ravel - já silenciara.
Em meio ao burburinho de gente de todas as idades e lugar, me senti um tanto decepcionada, traída... O que custava o Sol me esperar um pouquinho?
Andei pela feira de artesanato, sem me deter em lugar algum.
Resolvi afogar a decepção com uma coca-cola zero, hiper gelada e entrei no FlipperBar (antigo Golfinho), onde fui recebida com alegria e muita simpatia, pelo jovem casal de proprietários, Daniele e Edmilson Carvalho Leite que, mais que depressa, me convidou para ficar e participar do ''Momento de Reflexão'', o qual aconteceria dali a instantes, me garantindo, inclusive, ser um momento tão belo quanto o acalanto para o Sol dormir.
E, entre a conversa com a belíssima e simpática Daniele, uma e mais outra coca-cola zero, fui ficando e cada vez mais gostando. Enquanto isso, no palco do restaurante/bar, acontecia um verdadeiro show da Banda ''Forró Pegada Boa'', cujo repertório me impressionou pelo bom gosto e pela bonita e afinada voz do cantor Marcelo.
Com meus botões pensava: mas que terra de gente talentosa! Lembrei dos poetas Ângela Rolim, Jamaveira, Luciê Ramos e Odir Milanez... (Por ordem alfabética. De preferência seria muito difícil.)
O Tempo já vestido de noite, enfeitado por uma Lua discreta no Céu de poucas Estrelas, me dizia estar na hora de ir uma vez que, estava sozinha, numa cidade estranha, e, ainda, precisava descobrir o caminho até o hotel reservado para o merecido descanso das emoções do dia, da viagem e da alegria de fazer novos e generosos amigos.
A gentil e bela Daniele havia me dito que o ''Momento da Reflexão'' aconteceria a partir das 18 horas. Porém, como a Ave Maria seria executada apenas pelo famoso saxofonista Jurandir em todos os bares e restaurante do local, o nosso seria o último.
Foi quando o seu esposo, ao tomar conhecimento da minha necessidade de ir embora, mas que depressa pediu a um dos seus funcionários que fosse correndo chamar o artista, para que ele ''furasse'' a ordem de apresentação e viesse fazer a do FlipperBar.
Fiquei realmente emocionada diante de tanta gentileza e consideração, para com uma pessoa que eles nem conheciam... Tentei impedir que o funcionário cumprisse a ordem, mas ele já saíra em disparada.
Enquanto isso no palco Marcelo dava continuidade ao show.
Não deu nem cinco minutos e lá chegou Jurandir com seu sax. A banda parou a canção pela metade. Todas as luzes foram desligadas.
E, na escada, entre o Céu e a Terra, com fundo do Rio e do Mar, iluminado por efeitos especiais de luzes e fumaça que simulava nuvens; se ouviu, de um Anjo de Verdade, o solo da Ave Maria.
No término da apresentação ele veio até mim e me perguntou se eu havia gostado de sua apresentação.
Não foi possível lhe responder com palavras, lhe respondi com um beijo molhado de lágrimas, em sua face corada da correria de um dia feliz.
CORAÇÃO CARINHO
Odir Milanez
Meu coração feliz fica a bater
toda vez que ela passa de mim perto.
Do batido a tensão tento conter,
arrevesando o olhar, mas não dá certo.
Ela passa por mim sem se deter.
Parece que inexisto, sou deserto.
Mas ele, mesmo assim, vive o viver
da batida feliz por sonho incerto.
E para não deixá-lo rir sozinho,
dissimulo um sorriso quando a vejo
ou se piso os seus passos no caminho.
Por ele temo crer no meu desejo.
enfartaria ao curso de um carinho,
na certa explodiria ao primo beijo.
JPessoa-PB
29.12.2012
Oklima