Líquidos por trás

Recepção de casamento é sinônimo de comer como os tubarões e beber até trocar Jesus por Genésio. No meu caso apenas posso cultivar a arte da gastronomia.

E foi o que eu fiz.

Você nem imagina o quanto comi. Naquele casório não dispensei quase nada! Só não provei todos os salgadinhos porque a maioria tinha carne de algum animal. Havia apenas um tipo salgadinho de queijo e foi onde dediquei-me, afinal, sou vegetariano. Comi muitos salgadinhos (talvez dezenas), tirando gosto com os docinhos. Não me esquivei uma oportunidade sequer de saborear os brigadeiros e todos os outros que não sei o nome. Na hora do jantar eu já estava cheio, entretanto degustei ainda uma porção de salada, arroz…

Cheguei em casa. Cama. Ao acordar de manhã algo estranho pressionava meu passador de feijão. Fui ao banheiro. Desastre. Não expeli nada sólido, só líquidos. Fedor, como estava insuportável aquele ar! Saí daquela podridão com a pressão baixa, com duplo sentido. Voltei ao banheiro dez minutos depois. Saí e retornei nos quinze seguintes.

Pensei que estava “curado” com três arriadas sem programação e fui ao supermercado comprar uns legumes para o almoço. Enquanto minha amada escolhia o que a gente ia comprar, pensei que podia aproveitar esse tempo pra entrar na internet de um cyber café, localizado dentro do mercantil.

Na ida ao cyber a pressão no tubo bateu e corri para o banheiro. Havia apenas uma cabine com papel higiênico e um cagão sacana, ao ver que eu ia entrar lá, tomou minha frente e roubou o meu lugar. Respirei fundo, lavei as mãos e fui ao encontro da minha amada.

Falei que estava vazando pelo pito e pedi pra que ela fosse ao caixa, pagasse os legumes e me esperasse na entrada do supermercado. A pressão no cano de escape bateu mais uma vez e vi que não daria pra chegar em casa. Corri para o banheiro. Pela felicidade da minha cueca, o cagão sacana já tinha saído e pude realizar o que chamo de operação homem-aranha (ficar de cócoras no aparelho sanitário, com as mãos apoiadas nas extremidades da cabine, para colocar os barquinhos pra velejar sem correr o risco de contrair uma doença).

Tive que limpar meu velho boga com um papel higiênico que é mais conhecido pelas bandas de cá pelo nome de lixa-prega. Quis nem saber, peguei o lixa-prega e limpei meu carretel. Limpei não. Enxuguei. Nessa fase só podia enxugar. Saí do mercantil e minha amada também se queixava de dores na barriga, mas ela não tinha conseguido por as crianças pra nadar.

Em casa, depois do tormento do lixa-prega, tomei um banho. Que banho! O pobre do meu as de copas era uma brasa só. Pense num fiofó quengado! Bebi uns chás que minha avó disse que eram dos bons. Tomara que ela tenha visto esses chás serem receitados por uma profissional da área médica e não pela macumbeira mais fuleragem do centro da cidade… e diz aí que os chás serviram…

Lá pelo fim da tarde… início da noite, a irmã da noiva ligou. Ela perguntou se a gente tinha tido algum problema funcional depois do casório. Minha amada disse que eu ‘mijava por trás’ desde que acordei e que ela se ‘lascava’ de dor na barriga. O desvendar do mistério começou aí. A irmã, a mãe e a própria noiva estavam com nossos mesmos sintomas. A noiva nem tinha jantado, muito menos comido docinhos. Eu não havia comido carne, só guarnições, salgadinhos de queijo e docinhos. Minha amada comeu um pouco de tudo e a amiga dela (irmã da noiva) tinha saboreado alguns salgadinhos e teria comido poucos docinhos… não lembro dela ter jantado. Resultado: detectamos que os salgadinhos estavam estragados.

Na altura do campeonato, pouco importava se o que tinha feito aquele estrago em meu ser eram os salgadinhos ou docinhos. Meu corpo estava um trapo e meu bosquite… coitado… só regularizou a atividade trinta horas depois do casamento.

E uma pergunta fica no ar: como terá sido a primeira noite da lua de mel da noiva?

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Escrito em abr - 24 - 2005