Ziraldo, um autor Genial


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     Se não me engano foi no final dos anos 70, adolescente ainda, que me deparei pela primeira vez com uma charge de Ziraldo, em um nº qualquer do Pasquim, que eu também acabara de conhecer. Ao longo das décadas seguintes vi e li Ziraldo de várias formas, em livro, em revista, em entrevistas em jornais, na TV e até na plateia de uma de suas palestras em eventos para educadores.
     Sua figura é única, mas minha lembrança do comecinho dos anos 90 é a de um sujeito com um jeitão meio zangado, que parecia sempre ter o que dizer e que nem estava se importando se chocava alguém com o que dizia. Diante de centenas de professores assumiu que não foi lá um bom aluno mas que adorava ler...e reafirmou:Ler é mais importante que estudar!
     Achei graça no silêncio da plateia que parecia discordar desse jeito tão arrevesado de incentivar a leitura, mas compreendi e dei razão a esse sentimento que uma boa leitura nos trás. Lembro quando vi e li Flicts, completamente deslumbrada com a luz e cor de cada página! Me senti também procurando meu lugar no mundo...o que faço até hoje.
     Segui lendo outros livros dele (O bichinho da Maçã, O joelho Juvenal...) por puro encantamento e sempre achei uma delícia escolher para ler e apresentar em rodas de leitura outras obras de Ziraldo. Penso que todas as crianças do mundo deveriam ter infância de Menino Maluquinho e nós, as professoras, deveríamos também ser  e ter muitas Professoras Maluquinhas entre nós.
     Além de sua obra pessoal ser vasta e de um valor cultural inestimável, vale dizer que  Ziraldo é coautor de livros com milhares de crianças, pois participa desde o ano de 2000 da "Oficina do Texto" criada por Samuel Ferrari Lago, então diretor do Portal Educacional e já ilustrou histórias que ganharam textos de alunos de escolas do Brasil inteiro, totalizando aproximadamente 1 milhão de diferentes obras editadas.Querem incentivo maior que esse?
     Esta semana este mineiro de Caratinga, artista de tantas facetas fez 80 anos, produzindo encantando. Não sou muito ligada em datas, mas no entra e sai de voos entre Maceió, Rio, Porto Alegre, Brasília, Maceió devorei o Almanaque Brasil que o homenageia. No editorial, Elifas Andreato diz algo que traduz o meu sentimento por este autor tão especial que transcrevo aqui: “Aos 80 anos, Ziraldo continua a ser um menino brincando de faz de conta com o velho tempo.Por isso penso que tudo o que o que fazemos por nós morre conosco. E tudo o que fazemos pelos outros nunca morre. Ziraldo há muito tempo é eterno.”


Mais do autor

Ziraldo Alves Pinto é do dia 24 de outubro, ano de 1932, mineiro de Caratinga e mais velho de uma família de sete irmãos. Seu nome veio da combinação dos nomes da mãe, Zizinha, e do pai, Geraldo. Nasceu e cresceu Ziraldo, e desde sempre desenhando, lendo e escrevendo. Rabiscava em tudo, até em caderno, e publicou seu primeiro desenho aos seis anos de idade no jornal A Folha de Minas. Jornal que o empregaria, quinze anos depois, em 1954, na página de humor. Até formou-se em outra faculdade, Direito em Belo Horizonte, mas não teve jeito. O que queria mesmo era ser desenhista e escritor, e muitas outras coisas, pois também acabou se tornando pintor, cartazista, jornalista, roteirista, teatrólogo, chargista, caricaturista e designer. Durante o início da década de 1960, já morando no Rio de Janeiro, Ziraldo começou a ganhar fama ao trabalhar nas revistas O Cruzeiro e Visão, e no Jornal do Brasil. No mesmo período lança seu primeiro grande trabalho, A Turma do Pererê, primeira história em quadrinhos totalmente nacional. A revista durou quatro anos e fez muito sucesso, chegando a vender 150 mil exemplares mensais, mas o golpe militar interrompeu momentaneamente a trajetória da turma. De qualquer forma o estilo de Ziraldo já estava todo ali: o traço simples e moderno, o texto bem humorado e doce, um senso de observação crítico e, acima de tudo, um amor enorme pelas coisas do Brasil. O autor saiu da turma do Pererê e se juntou a outra, a turma do jornal Pasquim, um dos veículos mais influentes da história jornalística brasileira. Em 1969, lançou seu primeiro livro infantil, Flicts. A história de uma cor que não achava seu lugar no mundo fez tanto sucesso que chegou a ser presenteada aos primeiros astronautas norte-americanos que pisaram na Lua. Um deles, Neil Armstrong, mais tarde falaria que “A lua é flicts”. Durante a década de 1970, Ziraldo seguiu se dedicando cada vez mais à literatura infantil, com destaque para o livro O Planeta Lilás (1979), até que em 1980 lançou O Menino Maluquinho, sua obra mais conhecida, premiada e traduzida. Somente no Brasil o livro vendeu quase 2 milhões de exemplares e, posteriormente, deu início a uma coleção de livros e foi adaptado para teatro, televisão, história em quadrinhos, tirinhas, cinema e até ópera. Durante toda sua carreira, Ziraldo também ilustrou textos de outros escritores, tais como Carlos Drummond de Andrade (História de dois amores), Chico Buarque (Chapeuzinho amarelo), Darcy Ribeiro (Noções de coisas), Manoel de Barros (O fazedor de amanhecer), Rachel de Queiroz (Cafute e pena de prata), Ana Maria Machado (Ponto de vista), Ruth Rocha (Um cantinho só pra mim) e Pedro Bandeira (Papo de sapato), além de ser ilustrador do Dicionário Aurélio Infantil da Língua Portuguesa. Ziraldo foi publicado, premiado e traduzido nos quatro cantos do planeta, principalmente sua obra infantil que já ultrapassou a marca de 100 títulos editados. Prova de que falar da sua própria cultura é ser universal. Ziraldo foi casado por 45 anos com Vilma Gontijo e com ela teve Daniela Thomas (diretora de cinema e teatro, roteirista e cenógrafa), Fabrizia Pinto (diretora e roteirista) e Antônio Pinto (compositor). Além da Turma do Pererê e do Menino Maluquinho, Ziraldo também criou outros personagens memoráveis como a Supermãe, o Mineirinho, os Zeróis e Jeremias, o bom. “Ler é mais importante do que estudar. Ler é mais importante que tudo”. – Ziraldo “Eu faço um livro cúmplice. Não faço um livro adulto dizendo a criança como ela deve ser. Eu faço um livro como se eu também fosse um menino”. - Ziraldo" “Sou fascinado pela palavra. Quando percebi que, em português, a palavra "palavra" contém em si os termos "pá" e "lavra". Ela é a matéria-prima e ao mesmo tempo o instrumento para trabalhá-la. Disse isso ao Drummond e ele adorou.” - Ziraldo “O Menino Maluquinho é um menino que teve, acima de tudo, amor na infância. Uma criança feliz tem tudo para ser um adulto feliz, acredito. E vi! O Menino Maluquinho, como diria o Millôr, nunca trabalhou nos Correios, por isso não foi criado para enviar mensagens...” - Ziraldo “Meus desenhos nunca foram direcionados para uma forma de pintura. Sempre foram desenhos narrativos. Escrever, para mim é, pois, uma extensão do que sempre desenhei”. - Ziraldo “Descobri que escrevo para o núcleo familiar. Vou explicar: meus grandes leitores são a mãe e o pai, essa família que conversa na hora do almoço, que vejo na feiras, na Bienal de São Paulo. Umas das maiores emoções da minha vida é ver as famílias, com os filhos, nas minhas tardes de autógrafos”. – Ziraldo

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