O DIA DO CAOS
As vésperas do dia das mães, Célia, em jeans e azul, na fila internacional do saguão do aeroporto de Brasília, vindo de um congestionamento nacional de carros, ônibus e pessoas estressadas seguia com o seu carrinho de transporte de bagagens, que prendia as rodinhas naquela imensa,mas diferente fila, para despachar as suas bagagens, quando uma senhora cansada de já ter ficado, pelo menos trinta minutos naquela agonia resolveu fazer algo.E se dirigiu a o box nº 1 da COMTAMNHIA reclamando a sua necessidade de cidadã.Sem ser levada à sério, foi informada, como forma de se livrar do bate boca, pelo balconista, que os boxes nº 53 e 54 estariam fazendo o despacho de bagagens para quem já estava com o chekin pronto.
Solidariamente a senhora repassou a informação a alguns passageiros, naquela faraônica fila, dentre estes Célia embarcou, pois já estava cansada.
Imediatamente cinco ou seis pessoas foram ao boxes informados, doravante se ouvia nos auto falantes do aeroporto, que os boxes citados estavam despachando pessoas para Belo Horizonte.Contudo aquelas pessoas, como em sua maioria ali, cansadas e insatisfeitas foram atrás de uma esperança.Lá chegando, ficaram enfileiradas novamente esperando a chamada do atendente.
No alto do box, em letras graúdas anunciava Belo Horizonte, mas a carência de respeito e a necessidade humana apontavam para uma esperança, meia que confusa.
Quando o rapaz do box chamou, a primeira era dona Célia, que foi toda entusiasmada e ciente de que estava tudo bem.Mas num país de dimensões continentais, onde a riqueza deixa como contraste a miséria sob um absurdo, as vezes, podemos ser surpreendidos.
Célia ao descarregar o seu carro na esteira de peso e entregar a sua passagem, foi subitamente envolvida na surpresa do ser.
O atendente que começou dizendo boa noite, mudou repentinamente da água para o vinho e impiedosamente disse:
- O despacho de sua bagagem não é aqui.O que a senhora está fazendo aqui? Não ouviu os auto falantes dizerem que era para Belo Horizonte;Não viu os letreiros do painel?...
Célia sem perder a pose disse: - Moço, o senhor está insinuando que eu sou surda!...Que eu sou Burra!...Que eu não enxergo!...É claro que eu ouvi,mas...
E ele sem querer saber interrompendo repetiu:
- O seu lugar é nessa fila e não aqui.Aqui é só para quem vai para Belo Horizonte como informa o painel.
-Moço, me respeite.Eu vim porque o outro atendente do box nº1 disse que aqui estavam fazendo despacho de bagagem.
E sem querer saber, transtornado o rapaz repetia insistentemente:
- Aqui só atendo quem vai para Belo Horizonte e o seu lugar não é aqui, veja o que diz o painel.
Incomodado com a situação, um dos passageiros que também estava na fila intercedeu:
-Ei rapaz respeite a moça, não precisa você ofendê-la.Você está lidando com o público tem que ter um pouco de educação.Você está com algum problema?!...
Célia sob o ímpeto da situação, em prantos serenos disse:
- Qual é o seu nome rapaz, vou formalizar uma queixa ao seu superior.
Imediatamente ele respondeu: - O meu supervisor está aqui do meu lado.
E a moça, se sentindo como todos os brasileiros nesse país esbravejou dizendo:
- Esse não, não quero falar com ele, vou procurar outro acima dele.E saiu em direção desconhecida, deixando as suas bagagens com o rapaz, que lhe auxiliou.
É natural dizer que após tantos desrespeito ainda temos que aturar abusos de toda ordem e suportar a impunidade, como um doce amargo, que não tem solução.
Dessa forma veio Célia desabando em lágrimas, procurando um ombro amigo e sem uma resposta eficaz contra os maus tratos e a impunidade.
- Fui atrás de alguém para resolver e recebi com resposta só desculpas e o despacho de minhas bagagens.A cidadania, num país do século vinte e um, ainda vive os seus dias de escravo.E enquanto o povo não se der conta de suas responsabilidades, há que se viver de uma constituição, o direito a ser todo os dias desrespeitado.