“Apagaru u candiêro/derramaru u gais”

Escurão danado, breu, céu fechado, uma estrela perdida, uma lua de cemitério, encolhida, friorenta. A rua abandonada, no outro quarteirão uma delegacia plantonista parada, tudo zero. Foi esta a cena do apagão em Aracaju, mais precisamente na rua onde moro. O pior foi não ver Gabriela com Nacib.

Nos anos 60, faltar energia era motivo de alegria. Sim, exatamente. Principalmente durante o verão com aquele luão e um monte de estrelas brigando para aparecer no azul do céu sergipano. Todos corriam para a calçada, a molecada gritava, pulava e dizia vivas. Os adultos sorriam, os namorados adoravam porque se danavam a beijar e mais algumas coisinhas proibidas quando a luz inundava a cidade poética de Aracaju.

Os mais velhos puxavam as cadeiras para a calçada e contavam histórias de assombração. Os mais medrosos tratavam de acender os candeeiros. As crianças que tinham medo do escuro se enfiavam debaixo dos cobertores. Os maridos, na madrugada, faziam a festa com suas mulheres. A confirmação da gravidez logo viria. Os poetas se inspiravam.

Naqueles dias, quando faltava luz (dizia-se assim) e, após um breve espaço de tempo, tudo se acendia, a gritaria era pra valer, era mesmo uma festa e tinha uma chuva de palmas (aplausos).

Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Vivaaaaaaaaa! Deu à luz! A luz chegouuuuuuuuuuuuuuuuu! Obáaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Uns cinco minutos de manifestações.

Quando a energia retornou nesta madrugada do dia 26, o computador se danou a acender, parecia uma fogueira junina e, todo atrapalhado com os avisos de Restaurar, abria e fechava links. O bichinho tava adoidado. Quando tentava colocar juízo na cabeça tonta do PC (e com medo de que tudo estivesse perdido), vi que funcionava legal.

Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Gritei na solidão das duas da manhã. No Facebook estavam muitos com as curtições e compartilhamentos. Uns falavam dos cuidados necessários porque as cercas elétricas não funcionavam, outros diziam para liberar os cães. A Bahia apagada, imagine você que me lê o que será a Bahia apagada. Nem Jorge Amado saberia narrar. Mas, pensando bem, do jeito que baiano é calmo, acredito que deu tudo certo. Alô, minha vizinha!

Agora retorno um pouco ao escuro desta madrugada para dizer que fiquei um pouco no quintal apreciando a mangueira pendendo nos cachos de manguinhas, um morcego tonto, um azul tímido do luar no muro, uma lembrança passeando em meus olhos e a luz do luar sendo encoberta por nuvens. Não sei o que pensava a lua, mas era tão triste...