O Mistério
Não tirava os olhos dela. O seu suspense me instigava. Perguntei-me se as demais pessoas também a viam. Parece que não. Passavam por ela sem notá-la. Quase esbarravam-na, mas continuavam a não vê-la.
Como alguém poderia não vê-la? Somente eu a via, ao que parece. Teria eu problemas em enxergar demais ou eram as pessoas que não viam o suficiente?
Uma senhora sentava-se ao seu lado. Pensei em perguntar se lhe pertencia. Provavelmente não. Quando a senhora sentou, lá embaixo, à esquerda, já estava.
Questionei-me, então, a quem pertencia: uma senhora? Um senhor? Uma mulher? Um homem? A um jovem ou uma jovem? Poderia, afinal, pertencer a uma criança?
Posteriormente, o que poderia haver me perturbava... O que carregava? Para que e por quê? Faria ela falta?
A tentação de chegar próximo. Deveria? Poderia? As demais pessoas a notariam, finalmente, já que a ela me aproximaria? E depois: teria coragem de abrir? O que poderia descobrir? As pessoas iriam julgar-me? Afinal, deveria avisar alguém?
Como processei tantas questões não faço ideia e logo notei que me aproximava do destino de desembarque.
Pela última vez fui tentada a aproximar-me dela. Abri-la. Descobrir o que havia e a quem pertencia. Mas, achei que isso seria invadir a privacidade de um desconhecido.
Na verdade, fui covarde a ponto de não me preocupar com quem a esquecera e, mais que isso, fui covarde a ponto de me preocupar com o que as demais pessoas pensariam de mim.
Não, não abri-a e nem tampouco me aproximei. Dei uma ultima olhada. E então jamais soube o que havia dentro daquela bolsa.
(Em 2011)