OS TESOUROS DA VIDA

É comum quando os pais saem com seus filhos pequenos, principalmente em eventos com público, escrever o seu nome, endereço e telefone, para que, caso ocorra um eventual desencontro, a criança possa ser identificada por outra pessoa e essa tenha como contactar seu responsável. Tem pessoas que, quando são submetidas a uma internação hospitalar, para uma cirurgia, deixam uma lista com a família sobre o histórico da doença e os remédios de que fazem uso, e também as senhas dos cartões de crédito caso algo ocorra de maneira inesperada.

Nunca, graças a Deus, meu corpo foi submetido a alguma intervenção cirúrgica, não que já não precise, mas isso é outra história. Então fico imaginando como será quando eu, inevitavelmente, partir para o “sacrifício”. Vai ser mais ou menos assim a minha “lista”: Nasci de parto normal, em uma manhã de julho, no inverno de mil novecentos e cinquenta e nove. Sou filho do meu pai e da minha mãe. Meu sangue é vermelho, sou etnicamente diversificado, minha religião não tem nome, minha pátria é a Terra.

E continuo: Ao entrar aqui, deixei lá fora muitas pessoas que amo, com quem divido a minha existência. Se eu não voltar diga a elas que meu amor, de tão grande, ganhou a dimensão do céu e explodiu em milhões de estrelas invisíveis aos olhos, mas que estarão presentes no sorriso de todos quando lembrarem de mim.

Tem mais: As coisas que me pertenciam podem doar, aliás, por favor, doem tudo que for possível do meu corpo, a grandeza desse gesto sempre foi motivo de emoção para mim e, agora que já não me fazem falta, podem abrir as portas da vida para quem está lá fora esperando a hora de entrar.

Para terminar: Se existe um tesouro na vida, são os nossos filhos e netos, a esses eu deixo o mapa da mina, onde está o grande baú ,o meu coração, guardando o meu bem mais valioso: a minha poesia.

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 26/10/2012
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